A formação de leitores e o calibre de nossa dívida

    10/6/2013 – Temos de ampliar nossa “comunidade de leitores”, sob pena de perpetuar a terrível exclusão cultural.

    O Indicador de alfabetismo funcional (Inaf) classifica a população brasileira adulta (15 a 64 anos) em quatro categorias: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, básico e pleno, esta última congregando indivíduos com domínio nas habilidades de leitura, escrita e matemática. Entre 2002 e 2012 houve uma redução do analfabetismo absoluto e do alfabetismo rudimentar, concomitante a um incremento do alfabetismo básico da população. Entretanto, a proporção dos que atingem o nível pleno de habilidades manteve-se inalterada, em torno de míseros 25%. Ou seja, apenas 1 em cada 4 brasileiros adultos são plenamente alfabetizados e – pior – nesta categoria permanecemos estagnados ao longo da ultima década. Pior ainda, seria de se esperar que todos os indivíduos com curso superior fossem plenamente alfabetizados, mas esta não é a realidade: apenas 62% o fazem (34% acomodam-se no nível básico e 4% no rudimentar de alfabetização).

    Também no ano passado foram divulgados os resultados da terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Aqui tampouco as notícias são animadoras. Comparada à edição anterior, de 2007, houve um decréscimo no número de leitores (aferido por quem leu pelo menos um livro nos últimos três meses), de 55% para 50% da população total. Da metade de não leitores, 16% são analfabetos. Entre as opções para uso do tempo livre, a leitura despencou de quinto lugar em 2007 para sétimo lugar no ultimo levantamento, muito atrás da televisão (a opção preferida) ou de simplesmente descansar.

    A pesquisa também indica que lê quem tem mais renda e quem já nasceu em uma família cujos pais já praticavam a leitura. Assim sendo, é forçoso reconhecer que no Brasil, leitura ainda é um privilegio de classe.

    Outra constatação é que quanto maior a idade, menos o brasileiro lê, provavelmente porque os livros didáticos estão incluídos na pesquisa. Se considerarmos que a Bíblia é o livro que mais se lê no país, deduzimos que são poucos os brasileiros fora da escola que praticam a leitura por vontade própria. A conclusão inevitável é que nossas escolas falham em despertar o interesse pela leitura, e que nossos professores não conseguem introduzir parcelas expressivas de não leitores ao mundo da cultura letrada.

    Entre 11 e 13 de junho, a EdUFSCar realiza a décima edição de sua já tradicional feira de livros. Na semana seguinte, a feira será, pela primeira vez, replicada em Sorocaba. Praticamos descontos significativos para facilitar o acesso aos nossos livros e aos publicados por outras editoras, ao mesmo tempo em que desenvolvemos uma programação cultural paralela que busca aproximar autores de leitores.

    Mesmo que modestamente, temos de nos preocupar em ampliar e reforçar nossa “comunidade de leitores”, sob pena de perpetuar esta terrível exclusão cultural (que logo se traduz em impossibilidade de exercer cidadania pela incapacidade de acessar tantos e tão diversos universos culturais) em plena era que se define como a do conhecimento. É uma dívida enorme e saldá-la deve ser tomado como uma missão, uma cruzada pelo país, na qual cada um – nós, professores, e a EdUFSCar aí incluída – , deve se engajar, no limite de suas possibilidades.

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    Oswaldo Truzzi é professor associado da Universidade Federal de São Carlos, nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Engenharia de Produção. É doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e graduado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo. Dirige, desde 2000, a Editora da Universidade Federal de São Carlos – EdUFSCar.

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