Milhares de aves migratórias não conseguiram fazer sua visita anual à costa ocidental da Albânia neste inverno, dizem os especialistas, apontando a mudança climática, a pesca excessiva e a urbanização como fatores prováveis.
O número de aves aquáticas registrado em janeiro de 2022 nas zonas úmidas Divjaka-Karavasta – um importante ponto de invernada internacional ao longo da rota migratória européia – foi 25% menor do que nesta época do ano passado.
A Albânia Ocidental registrou a queda durante o Censo Internacional de Aves Aquáticas anual, um evento global de três dias para monitorar os padrões de migração de aves aquáticas em todo o mundo. Várias espécies são afetadas pelo declínio, segundo Taulant Bino, da Sociedade Albanesa de Ornitologia.
“Descobrimos que cerca de 9.000 aves aquáticas estão desaparecidas nas lagoas Divjaka-Karavasta em relação ao ano passado”, disse Ardian Koci, chefe do Parque Nacional Divjaka-Karavasta, onde estão localizadas as áreas úmidas protegidas.
Koci disse à AFP que um total de 25.000 aves foram contadas em Divjaka-Karavasta – um dos mais importantes ecossistemas de zonas úmidas do Mediterrâneo – durante o censo de 15 a 16 de janeiro, em comparação com 34.000 no levantamento realizado um ano antes.
“As razões são múltiplas, mas acima de tudo, foi o aquecimento global que perturbou as estações de migração e reprodução”, explicou Koci.
Nexhip Hysolokaj, um especialista regional em biodiversidade, disse que os cientistas na Albânia têm acompanhado um rápido declínio nas populações de aves migratórias nos últimos três anos.
Padrões meteorológicos disruptivos
E enquanto os cientistas dizem que é preciso mais pesquisa para entender exatamente como a mudança climática está afetando as aves, alguns apontam para o simples fato de que o tempo cada vez mais quente significa que certas espécies não precisam mais deixar seus locais de reprodução do norte quando chega o inverno para encontrar alimento mais ao sul.
“Se não houver temperaturas extremas no norte da Europa, elas preferem não se mover, ou simplesmente migram em distâncias mais curtas”, disse Mirjan Topi, o autor do primeiro guia das aves da Albânia.
Nos últimos anos, várias espécies de gansos migratórios – incluindo o ganso Greylag, o ganso de testa branca e o raro ganso de testa branca, que se reproduz na tundra do norte da Rússia e na Escandinávia – não conseguiram, em grande parte, fazer sua peregrinação de inverno aos pântanos da Albânia.
As lagoas ocidentais também são famosas por seus Flamingos Maiores e Pelicanos Dálmatas residentes, que têm uma envergadura de asa de três metros que rasga a do albatroz.
Mas especialistas dizem que o ciclo de reprodução dos icônicos pelicanos – cujas populações fragmentadas são uma preocupação com a estabilidade a longo prazo da espécie – está sendo perturbado por padrões meteorológicos cada vez mais erráticos.
Em 2021, os pelicanos começaram a procriar no início de janeiro. Este ano, a época de nidificação só começou no final de janeiro – uma diferença de várias semanas – após um inverno que começou excepcionalmente tarde.
“A estação de reprodução dos pelicanos parece estar atrasada no ano passado”, disse à AFP Sajmir Hoxha, especialista em Albânia do grupo francês de conservação Noe.
Enquanto isso, a pesca ilegal esgotou fontes vitais de alimento nas lagoas da Albânia, e a rápida urbanização está ameaçando ecossistemas frágeis, especialmente na rede de pântanos e dunas ao longo do imã turístico que é a costa do Adriático.
Para aumentar a pressão, está prevista a construção de um aeroporto internacional em expansão próximo aos pântanos protegidos da região Vjosa-Narta, ao sul de Divjaka-Karavasta.
Este projeto de 100 milhões de euros (US$ 114 milhões), apoiado por um consórcio turco-suíço, “afetaria diretamente a vida selvagem e é uma ameaça para as espécies que se reproduzem lá, invernam lá ou param lá no caminho para Divjaka”, disse Topi.
Fonte: https://phys.org/news/2022-02-climate-fuels-albania-migrant-birds.html
