A Zona do Desconforto que se instalou em nossas vidas nos últimos tempos

Nos últimos dias tem sido frequente ouvirmos afirmações do tipo: “ A pandemia me tirou da zona de conforto”; “ Estou produzindo mais e me reinventando no isolamento social”. Refletindo sobre essas questões e sobre o que chamamos de Zona de Conforto, vamos voltar o olhar para todas as mudanças que estamos vivendo e buscar entender qual o real sentido da reviravolta, interna e externa, que está sacudindo e alterando nosso dia-a-dia.

A angústia causada pelo “novo” movimenta nossas emoções e atiça sentimentos diversos. Mas foi preciso uma situação de desconforto geral para fazer com que alguns de nós se atrevesse a encarar as mudanças da vida. Mas é bem verdade que muitos ainda estão estacionados, esperando a roda girar, receosos de encarar os desafios e os seus conflitos internos. Utilizando suas próprias limitações e sofrimentos psicológicos como álibis para utilizar o mal-estar na justificativa da sua falta de vontade, falta de coragem e de êxito para buscar e desenvolver novos projetos de vida. E, em muitos casos, utilizando o próprio discurso para não se envolver com a sua essência.

O que chamamos de Zona de Conforto é também descrito pela ótica psicanalítica como “Zona de Desconforto”, já que nela podemos nos sentir tão habituados às situações desfavoráveis que nos trazem dor e limitações, criando uma certa intimidade com as sensações que causam medo do “novo”, medo de se reinventar. Cega nossos olhos para as novas possibilidades. Incorporamos esse sentimento psicológico e promovemos a perfeita sintonia com nosso ego, gerando a falsa sensação de que, apesar do barulho causado, os prejuízos são aceitáveis. Dentro dessa concepção, nasce também o desejo fantasioso de que um dia alguém virá nos salvar, ou seja, depositamos no outro a responsabilidade por nossas escolhas e nossas possíveis mudanças de atitudes e pensamentos, atrasando benefícios por conta de uma proteção imaginária.

E de que forma podemos mudar esse vício de ação punitiva? Se o futuro eu não controlo, como posso diminuir a angústia causada pelo “novo” que bate a minha porta? Simples, através do entendimento de que qualquer mudança ou inovação, por mais difícil que seja, precisa acontecer. Do contrário, poderá ser fatal para qualquer campo de sua vida. É necessário encontrar o equilíbrio nas escolhas e no fortalecimento das suas estratégias. Permanecer na “Zona de Desconforto” só alimenta a ação de sabotagem inconsciente. O incômodo e o medo são o que chamamos de “maus necessários”, pois podem promover a tomada de atitudes e dar sentido aos processos e as suas mudanças. Nunca é demais pensar que devemos ser os protagonistas de nossas escolhas – elas são livres, mas as consequências, não.

Portanto, não espere outras tragédias, dores ou pandemias para entender que a mágica que você precisa para transformar sua vida não está no externo – está e sempre esteve disponível dentro de cada um de nós. É a mágica da ressignificação, transformando os problemas em forma de oportunidades de alinhamento. Criar as novas estratégias de trabalho, inovar seu segmento de negócio, se reinventar na forma de se relacionar com o outro ou desenvolver novas adaptações no convívio com os amigos ou com a própria família sem dúvida são os novos desafios que se apresentam nos últimos tempos. Estamos sendo obrigados a nos adaptar e a viver novos hábitos em todos os sentidos. E é muito natural, quando alguma nova experiência não nos parece muito positiva, que racionalmente tendemos a evita-la. Optamos por seguir numa mesma rotina, sem muitas alterações, limitado ao conhecido. Mas algumas situações têm nos exigido esforços para romper essas barreiras. Se por um lado é bom e seguro trilhar os mesmos caminhos, por outro nos deparamos com um mundo novo cheio de possibilidades atrás dos muros das nossas rotinas.

Enfim, chegou a hora de olhar para nossas escolhas, trazendo o desafio de fazer diferente e ser diferente. Descobrindo em si mesmo forças para aceitar mudanças e se inovar, se desprendendo de modelos gastos e até mesmo percebendo habilidades e gostos antes nunca experimentados. A ousadia está em abandonar os medos, a rigidez e desbravar caminhos novos. Fugir do ciclo do auto boicote que mascara nossos sentimentos e não permite que possamos perceber oportunidades reveladoras no meio do caos, das últimas adversidades que, independente de nossa vontade, surgiram para nos colocar em ação, nos tirando da “ Zona do Desconforto” e nos arremetendo para a “zona do nosso confronto”. Eliminando a fragilidade que nos impede de ver oportunidades de fortalecimento, de autoconfiança, da autoestima e do nosso próprio crescimento pessoal. Importante aprendermos a fugir do papel de vítima das adversidades inerentes ao ser humano e sermos protagonistas de nossas soluções, acreditando em nosso potencial com força e coragem. Sempre aliando saúde mental com equilíbrio emocional. Afinal, ostra feliz e acomodada não produz pérolas.

Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista

  • Doutora em Psicanálise
  • Membro da Academia Fluminense de Letras – cadeira de numero 15 de
    Ciências Sociais
  • Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde
  • Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social
  • Professora na Graduação em Psicanálise
  • Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US
    Ambassador In Niterói
  • Membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento
    Profissional do Instituto Miesperanza
  • Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em
    Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo.
  • Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint
    Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.
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