Cientistas conectam onda de calor na Índia e no Paquistão à mudança climática

Uma onda de calor mortal está se formando em toda a Índia e Paquistão – onde vivem cerca de uma em cada cinco pessoas na Terra. Um estudo de atribuição conduzido por cientistas climáticos do Imperial College London descobriu que este calor extremo já é muito mais comum naquela região como resultado das altas temperaturas globais causadas pelas atividades humanas.

Os serviços meteorológicos locais emitiram avisos de ondas de calor. A previsão é de que as temperaturas subam a 50°C hoje (26) em Jacobabad, Paquistão – que será por algumas horas um dos lugares mais quentes do planeta – aproximando-se do recorde de temperatura para a cidade.

A Índia já bateu a marca de temperatura mais quente em 122 anos de registros meteorológicos. A capital, Nova Delhi, pode chegar a 44-45°C nesta terça-feira – batendo seu recorde de temperatura em abril – enquanto algumas partes do norte do país podem chegar a 46°C.

Regiões agrícolas indianas estão vendo a produção de trigo cair 10-35%, em parte devido ao calor não sazonal. Isso está acontecendo ao mesmo tempo em que o país tenta compensar o déficit de fornecimento de grãos causado pela invasão russa à Ucrânia.

“Antes das atividades humanas aumentarem as temperaturas globais, teríamos visto o calor que atingiu a Índia no início deste mês cerca de uma vez em 50 anos. Mas agora é um evento muito mais comum – podemos esperar temperaturas tão altas cerca de uma vez a cada quatro anos”, explica Mariam Zachariah, pesquisadora do Imperial College London e uma das líderes do estudo. “E até que as emissões líquidas sejam interrompidas, isto continuará a se tornar ainda mais comum.”

“A atual onda de calor na Índia se tornou mais quente devido à mudança climática que é o resultado de atividades humanas como a queima de carvão e outros combustíveis fósseis. Este é agora o caso de cada onda de calor, em qualquer lugar do mundo”, diz Friederike Otto, que lidera o grupo World Weather Attribution e foi nomeado como uma das pessoas mais influentes da revista TIME de 2021.

“Até o fim das emissões líquidas de gases de efeito estufa, as ondas de calor na Índia e em outros lugares continuarão a se tornar mais quentes e mais perigosas”, completa.

As temperaturas previstas são semelhantes às observadas nas ondas de calor mortíferas que atingiram a Índia e o Paquistão entre maio e junho de 2015, que mataram pelo menos 4.500 pessoas. Naquele evento, o aeroporto de Nova Delhi atingiu 44,6°C, enquanto as temperaturas mais quentes da Índia foram vistas em Jharsuguda, Odisha: 49,4°C. No Paquistão, cidades nas províncias do Balochistão e Sindh atingiram 49°C.

Mortalidade

Especialistas em saúde pública alertam que o calor extremo tão cedo no ano é particularmente preocupante. Eles também enfatizam a necessidade de ações para ajudar as pessoas a sobreviver ao calor extremo provocado pela mudança climática.

“Esta é uma onda de calor muito precoce, e estas normalmente têm uma taxa de mortalidade mais alta, uma vez que a adaptação e a preparação é menor durante os meses de março e abril. Este é um sinal de alerta para o que está por vir em maio e junho”, alerta Dileep Mavalankar, diretor do Instituto Indiano Gandhinagar de Saúde Pública.

“O Departamento de Meteorologia da Índia (IMD) está liberando previsões até os próximos cinco dias para 1000 cidades na Índia”, informa Mavalankar. “As cidades devem monitorar diariamente os dados de mortalidade por todas as causas juntamente com os dados de internações hospitalares e chamadas de ambulância para compará-los com os últimos cinco anos de dados e obter a indicação real de estresse térmico sobre a mortalidade deste evento”.

“Embora a adoção de medidas de mitigação seja uma necessidade para limitar o aquecimento futuro, as ondas de calor extremas e duradouras não são mais um risco futuro. Já estão aqui e são inevitáveis”, afirma Abhiyant Tiwari, professor e líder de pesquisa no Instituto Gujarat de Gerenciamento de Desastres.

“Nossos planos de ação contra o calor devem assegurar medidas de adaptação, como áreas de resfriamento público, garantir eletricidade ininterrupta, acesso a água potável segura e mudança das horas de trabalho dos trabalhadores mais vulneráveis na base da pirâmide, especialmente durante dias de extremo calor”, completa.

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Redação
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