Como competir (e sobreviver) na era dos canais digitais?

Mesmo com a pandemia do coronavírus e com um cenário econômico bastante incerto, o comércio eletrônico brasileiro deverá crescer este ano. A previsão é que as compras online gerem um faturamento de R$ 90,7 bilhões em 2020, um crescimento de 21% em relação a 2019, quando o setor faturou R$ 75,1 bilhões. É o que diz o relatório NeoTrust, que analisa o varejo digital com base em dados do Compre&Confie. O crescimento do varejo online está ocorrendo em razão da mudança de comportamento dos consumidores que, através de uma necessidade inserida pelo coronavírus, estão migrando mais rapidamente para as plataformas digitais. 

A pandemia definitivamente forçou a migração do varejo para o e-commerce. O  fechamento obrigatório das redes de lojas físicas e shoppings centers e a maior procura pelas compras online fizeram com que os canais digitais ganhassem uma importância ainda maior dentro da estratégia de crescimento das companhias. Segundo a ABComm, 80 mil novas lojas online foram lançadas desde março e, o número de clientes que registraram pelo menos uma compra pela internet cresceu em quase 1 milhão. Alguns especialistas afirmam que, mesmo após o afrouxamento da quarentena e a reabertura total do comércio, as vendas online vão continuar se expandindo e se fortalecendo nos próximos dois anos. Este é um movimento que já estava sendo percebido há alguns anos pelos varejistas e, com a pandemia e a aceleração das vendas online, não terá mais volta. 

Mudança de comportamento do mercado requer novas estratégias

Com todo essa mudança de consumo e de comportamento, será que as empresas estão preparadas para investir em novas estratégias digitais? Posso afirmar que, hoje, a companhia que está se preparando ou pensando em adotar estratégias digitais, já está, de certa forma, atrasada. As empresas que já contavam com uma estratégia digital sólida antes da pandemia possuem uma vantagem de largada neste ponto. A Via Varejo é uma das companhias que está tendo resultados positivos desde que investiu em uma estratégia de marketplace: aumentou sua diversidade de produtos, expandiu e aumentou a eficiência multi-channel (vendas online e offline) e implementou a chamada revolução digital dentro da companhia. Mesmo com a pandemia, o marketplace da Via Varejo registrou no primeiro trimestre um lucro líquido de R$ 13 milhões. 

A estratégia usada pela Via Varejo, bem como pelas empresas que mais cresceram na última década é um conceito chamado de plataformização, ou seja, negócios que trazem disrupção, integração entre empresas e novos modelos de negócios e oportunidades em diversos segmentos. Segundo um estudo da consultoria de negócios Applico, elaborado com dados coletados na última década, entre 2005 e 2015, negócios baseados em plataformas tiveram um crescimento de 330% em comparação à 16% das demais empresas apontadas no relatório. Uber, Facebook, Alibaba e Airbnb são alguns dos exemplos de empresas que cresceram infinitamente mais do que as outras, por terem adotado essa estratégia. 

O valor no ecossistema

Quando falamos em ecossistema de negócios, estamos falando de troca de serviços, informações, produtos e valores dentro de uma mesma plataforma. Clientes, parceiros, fornecedores, reguladores: a plataformização consiste em colocar o foco no valor do ecossistema, buscando facilitar e ampliar a integração, orquestrar recursos, compor serviços e estimular a co-criação entre os agentes.

Em meio à pandemia, a digitalização do varejo ganha uma certa urgência devido aos desafios encontrados pelo setor. A entrega da experiência está evoluindo para um ecossistema de canais e parceiros, que exige uma infraestrutura de TI moderna, capaz de viabilizar uma atuação integrada, segura, monitorada e escalável. E, este ambiente de estratégias baseadas em plataformas só é possível graças às APIs (Application Program Interface), conjunto de rotinas e padrões que permitem acessar informações de softwares e tornam muito mais fácil a integração entre sistemas diferentes. As APIs são elementos-chave para a digitalização de negócios e é a tecnologia responsável por muitas inovações do mercado nos últimos anos, como marketplaces, pagamentos instantâneos e integração de negócios. 

É hora de repensar as vendas físicas

A mudança no modelo econômico e de consumo fez com que os shoppings centers também mudassem suas estratégias. Hoje, eles são mais um centro de experiências do que de vendas, já que ir ao shopping para comprar não é mais uma prioridade para o consumidor. O modelo online e digital do ecossistema existente hoje no mercado obrigou grandes redes de shoppings a repensar e explorar novos modelos de negócio, como fez a Aliansce Sonae, maior administradora de shoppings do Brasil e também, o Grupo Iguatemi. Ambos adotaram estratégias digitais que, habilitadas pelas suas APIs, estão transformando a experiência dos clientes e lojistas com integração das jornadas online e offline e entrega de uma experiência omnichannel. 

Mas não são só os lojistas e shoppings que estão se movimentando nesse sentido. Empresas como a Ultragaz, com o lançamento do seu novo app, transformando a forma como as pessoas compram gás, ou então a Cielo, que apesar de já ter lançado o solução de pagamento via QR Code há algum tempo, mas agora o tem visto ganhar mais força devido a preferência das pessoas em utilizarem meios de pagamento sem contato. Essa tecnologia de pagamento via QR Code inclusive será utilizada em parceria com a Caixa, Cielo, Rede e Getnet para agilizar e facilitar o uso do Auxílio Emergencial do governo federal. Estes exemplos mostram que, a estratégia das plataformas digitais pode ser aplicada em praticamente todos os modelos de negócios existentes no mercado. 

Mais do que nunca, para competir na era das plataformas digitais, é hora de repensar modelos de negócios, adotar estratégias de plataformização, integração e experiência omnichannel para continuar sobrevivendo ao mercado que será cada vez mais digital. 

Lucas Tempestini é Head de Marketing & Comms da Sensedia

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