Como é possível gerar renda a partir da conservação ambiental – e o que a tecnologia tem a ver com isso

Em primeiro de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu seu terceiro mandato como presidente do Brasil. Em seu primeiro dia no cargo, foram publicados no Diário Oficial uma série de decretos indicando compromissos da nova administração, um deles representando o restabelecimento do combate ao desmatamento no país. Durante quatro anos de governo Bolsonaro, o tema foi atacado pelo viés econômico, segundo a lógica de que a preservação retardaria o desenvolvimento brasileiro. No entanto, existem formas de lucrar a partir da conservação. 

Você já deve ter ouvido falar sobre créditos de carbono quando o tema é a preservação de extensas áreas verdes como a Amazônia. A capacidade das florestas de capturar o CO2 presente na atmosfera por meio da fotossíntese é essencial para que seja possível tolher os efeitos do aquecimento global e para que as nações possam cumprir os compromissos determinados durante a Cop27 (27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas). 

O Brasil apresenta uma abundância de biodiversidade como poucos países são capazes de abrigar. A extensão do território nacional oferece climas diversos que propiciam a composição de seis biomas distintos, todos eles ricos em flora e fauna, que devem ser preservados. 

A dúvida de muitas pessoas neste quesito é: como gerar renda a partir da preservação, ao contrário do desmate agressivo que observamos no Brasil e no mundo ao longo dos anos? Como funciona o mercado de crédito de carbono? 

“A primeira coisa a fazer é o cálculo do potencial de resgate de CO2 por cada área de biomassa a ser analisada. Diferentes vegetações apresentam capacidades distintas de fotossíntese”, explica Bruno Bolzam, CEO da Vert Ecotech, startup especializada no desenvolvimento de tecnologias que ajudam no equilíbrio ambiental. “Hoje, contamos com a ajuda de algoritmos de inteligência artificial capazes de determinar com precisão por meio de imagens capturadas por drones e satélites quanto dióxido de carbono é capturado por cada área verde”, complementa Florêncio Cabral Ponte Jr., CEO da Virtus Automation & AI, empresa parceira da Vert na parte operacional dos processos, cujo algoritmo é utilizado para o cálculo das áreas analisadas.

A inteligência artificial criada pela Virtus consegue diferenciar áreas de vegetação saudável, classificar o tipo de espécies existentes para então o sistema poder monetizar o carbono sequestrado da atmosfera. Uma fazenda pequena de 1 hectare de eucalipto é capaz de sequestrar até 32 toneladas de CO2 por ano. Cada tonelada vale de R$12 a R$80 no mercado nacional. “O valor de mercado não é fixo porque ele funciona dentro de trades como bolsa de valores e criptomoedas. Ou seja, ele é flutuante, dependendo de oferta e demanda nas bolsas de crédito”, explica Florêncio. 

Bolzam acrescenta que existem dois tipos de crédito: por sequestro e por redução de emissão. Além disso, a possibilidade de somar esse trabalho a ações sociais também agrega valor, chamado de “adicionalidades” – como a proteção de aldeias indígenas, inauguração de escolas, ou até mesmo manter praças e jardins em cidades vizinhas. “Essas ações garantem uma maior qualidade do seu crédito porque você está distribuindo benefícios reais para a comunidade, não somente gerando crédito de redução de CO2 por si só.”

Segundo o profissional, o compromisso ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) cada vez mais assumido pelas corporações no Brasil, pelo agronegócio e silvicultura, representa um grande potencial na área do comércio de créditos de carbono. “Empresas de todos os segmentos daqui para frente terão cada vez mais a responsabilidade de compensar o impacto ambiental e social de suas atividades. Comprando créditos que carbono de áreas verdes, elas financiam a preservação ambiental e também podem redistribuir a renda para pequenas comunidades que habitam essas regiões, inclusive com a construção de hospitais e obras de saneamento básico.”

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