€158 bilhões: receita da Rússia com combustíveis fósseis supera o custo da guerra

Os ganhos da Rússia com as exportações de petróleo, gás e carvão nos seis meses desde que o país invadiu a Ucrânia superaram o custo total da guerra, de acordo com uma nova análise do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (CREA). A receita da Rússia com as exportações de combustíveis fósseis atingiu 158 bilhões de euros de fevereiro a agosto, em comparação com o custo estimado de 100 bilhões de euros que a guerra teve até agora para o Kremlin.

O maior importador russo de combustíveis fósseis foi a União Europeia (85 bilhões de euros), seguido pela China (35 bilhões de euros), Turquia (11 bilhões de euros), Índia (7 bilhões de euros) e Coréia do Sul (2 bilhões de euros). As receitas de exportação de combustíveis fósseis contribuíram com cerca de EUR 43 bilhões para o orçamento federal da Rússia, ajudando a financiar crimes de guerra na Ucrânia.

Dentro da União Europeia, os maiores importadores foram a Alemanha (EUR19 bilhões), Holanda (EUR11,1 bilhões), Itália (EUR8,6 bilhões), Polônia (EUR7,4 bilhões), França (EUR5,5 bilhões), Bulgária (EUR5,2 bilhões), Bélgica (EUR4,5 bilhões) e Espanha (EUR3,3 bilhões).

“O aumento dos preços globais dos combustíveis fósseis significa que a Rússia ainda está obtendo receitas recordes com os combustíveis fósseis, apesar das reduções nos volumes de exportação. Para combater isso, os governos precisam impor tarifas ou limites de preços às importações da Rússia e acelerar as medidas de economia de energia, disse Lauri Myllyvirta, analista líder do CREA e um dos autores do relatório.

“Um enfoque particular deveria ser a redução do consumo de petróleo e gás, acelerando a implantação de energia limpa e eletrificação por meio de bombas de calor e veículos elétricos”, completa Myllyvirta.

Entre as principais conclusões do relatório, está a constatação de que houve uma queda de apenas 18% nos volumes de exportação de combustíveis fósseis pela Rússia em todo o mundo. Isso ocorreu ao mesmo tempo em que a redução das exportações para seu principal cliente, a União Europeia, foi de 35% em comparação com os níveis pré-invasão. Os maiores aumentos de importação que compensaram a queda na Europa foram observados em ÍndiaChinaEmirados Árabes UnidosEgito e Turquia, todos focados principalmente no petróleo bruto.

Segundo a análise, no caso do carvão, o fechamento Europeu teve mais resultados, e a Rússia não encontrou novos compradores para substituir esta demanda, com ligeiro aumento das importações de carvão russo pela China.

O real peso do impacto da proibição do petróleo russo na União Europeia ainda está por ser plenamente conhecido: as importações de petróleo russo caíram 17% em julho-agosto no bloco Europeu, mas deverão cair 90% quando a proibição entrar em vigor no final do ano, diz a análise.

Por outro lado, os altos preços dos combustíveis fósseis tornaram os investimentos em energia limpa atraentes em todo o mundo, diz a análise. As perspectivas de mercado para este setor ficaram especialmente melhores na União Europeia, EUA e China como resultado de incentivos fiscais e novas políticas climáticas.

Rotas indiretas

Os Estados Unidos e a Austrália continuaram a receber remessas de petróleo de refinarias indianas que são grandes compradoras de petróleo russo. Navios de propriedade europeia e/ ou segurados por empresas daquele continente também continuaram a transportar petróleo russo para novos compradores.

De acordo com o relatório, como as exportações de petróleo são redirecionadas em resposta às proibições, serão necessários mecanismos sofisticados de fiscalização para impedir a importação ilegal de petróleo russo por meio de rotas indiretas.

“189 alertas de ataques aéreos soaram em toda a Ucrânia em 24 de agosto, marcando tanto nosso 31º dia de Independência como o aniversário de seis meses da invasão. Cada bombardeio que sofremos foi financiado por combustíveis fósseis”, diz o ambientalista Kostiantyn Krynytskyi, chefe do departamento de Energia da Ecodiya, uma organização ucraniana que já lutava contra os combustíveis fósseis antes da guerra.

“Embora existam sinais positivos de que os países estão reduzindo seu vício em combustíveis fósseis russos ao caminhar para a energia limpa, este processo precisa ser acelerado urgentemente. As sanções funcionam, e elas devem ser expandidas e reforçadas para que a Rússia não possa driblá-las facilmente”, conclui Krynytskyi.