FAZENDA MARINHA DO PERÓ COMEÇA A PRODUÇÃO EM 2021

Até o fim do ano, após a flexibilização dos voos da Europa para o Brasil, técnicos espanhóis, da Galícia, chegarão ao Rio para montar, a 2,5 quilômetros da Praia do Peró, em Cabo Frio, a maior fazenda marinha do Brasil. Para produzir mexilhões, ostras e coquilles (molusco servido em pasta numa casquinha como a de siri, apresentação que nos restaurantes recebe o nome de Saint Jacques), ao grupo Mexilhões Sudeste Brasil (MSB) vai ocupar uma área no mar equivalente a 200 campos de futebol, com investimento de R$ 420 milhões e previsão de produzir 35 mil toneladas das iguarias por ano, com duas colheitas, para abastecer os mercados do Rio, de São Paulo e Minas Gerais com mexilhões frescos.

A última licença ambiental, a 01/2020, do Ministério da Agricultura, autoriza a cessão de uso no Oceano Atlântico para a MSB explorar a fazenda marinha do Peró por 20 anos. O grupo já tem as licenças do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e da Marinha, liberadas após as audiências públicas convocadas pelo Ministério Público Federal (MPF). Com tecnologia inexistente no Brasil, a fazenda será montada pelo mesmo grupo que produz mexilhões há 60 anos na Galícia, um dos líderes mundiais na produção da iguaria.

– — A área de Cabo Frio é única na América do Sul, com temperatura da água fria, clima subtropical prevalente e outras qualidades ambientais que permitem o cultivo de mexilhões de altíssima qualidade – informa José Manuel Perez, diretor administrativo da MSB. As características físicas, bioquímicas e de ressurgência são parecidas com as da Galícia. Com todas as licenças liberadas, estamos prontos para começar a montagem e a produção com equipamentos produzidos no Brasil. – anunciou o José Manuel Perez, diretor administrativo da MSB.

Segundo Perez, a fazenda marinha do Peró será usada pela como modelo pela Food and Agriculture Organization (FAO), agência da Organização das Nações Unidas organismo da (ONU) para alimentação e agricultura, como modelo para a América Latina. A fazenda, que já está nas cartas náuticas, não representará risco à navegação e afastará da costa do Peró as traineiras que

fazem pesca industrial e que prejudicam os pescadores artesanais de Cabo Frio. Há previsão de visita de turistas ao local de produção:

— As traineiras fazem arrastam no fundo do mar, dizimando com malha fina todas as espécies da região – explica Perez. Os barcos de arrastão não vão poder se aproximar da área de cultivo, ao contrário dos pescadores artesanais. O local será um porto seguro para as espécies marinhas, que terão também os microrganismos dos mexilhões para se alimentarem. Muitos cardumes vão sair dali. A fazenda vai converter o Brasil em uma referência mundial na aquicultura ecológica — previu Perez, acrescentando que a MSB dará apoio ao projeto Bandeira Azul, levando wi-fi para a orla, e patrocinará  o Festival do Marisco do Peró.

O diretor da MSB explicou que as poitas (âncoras de concreto) servirão de abrigos, tipo arrecifes artificiais, para gerar uma fauna marinha com uma grande diversidade. Os pescadores artesanais serão autorizados a pescar dentro da fazenda e, com isso, deixarão de viajar quilômetros atrás dos cardumes.

– — Será uma bênção dos céus. A pesca será no quintal de casa.O laboratório de produção de sementes já está pronto, em Angra dos Reis, e já foi assinado convênio com as colônias de Cabo Frio e de Búzios para que as mulheres e filhos dos pescadores tenham renda com a pré-engorda dos mexilhões – explicou o diretor da MSB.

No auge da produção, a fazenda marinha vai oferecer 500 empregos diretos e 1.500 indiretos. O projeto prevê a promoção de atividades culturais de âmbito local, incentivo ao turismo gastronômico e apoio à conservação ambiental das áreas protegidas. A tecnologia que será usada na fazenda não tem similar no Brasil e supera a cultura secular de criação de mexilhões na Espanha por adotar renovação nos conceitos de produção.

— Para o Estado do Rio, a instalação de uma fazenda marinha do porte da que será instalada no Peró é mais do que uma boa notícia, pois além de movimentar a gastronomia, é um estímulo à economia, já que o mercado de frutos do mar é crescente. A escolha do Peró não poderia ter sido melhor, pois a pureza da água é fundamental para a produção de moluscos saborosos e de alta qualidade – comentou o jornalista e escritor Chico Júnior, autor do livro “Na boca do estômago – uma viagem ao prazer de cozinhar e comer.

Diretora do hotel ME Sitges Terramar, em Barcelona, Cristina Imaz Boada confessa que é uma gerente de hotel com alma gastronômica e não tem dúvidas de que os mexilhões de qualidade, com tecnologia galega, vão fazer muito sucesso no Brasil. Barcelona consome 20 mil toneladas de mexilhões por ano.

— Nós adoramos mexilhões. Embora os meses com R os tornem mais ricos, gostamos deles durante todo o ano. São uma chave maravilhosa em qualquer casa, em qualquer canto do mundo, mas aqui Barcelona somos loucos pela iguaria – disse a espanhola.

As fazendas marinhas de Santa Catarina, que lideram o mercado nacional, produzem em média 17 mil toneladas de mexilhões, metade abaixo das 35 mil toneladas que serão produzidas no Peró. Ao contrário da Espanha, onde é preciso esperar um ano, a colheita no Peró poderá ser feita de seis em seis meses por causa das características climáticas do local. A fazenda terá 36 polígonos (área reservada para a criação), sendo dois deles para ostras e coquilles.

–– O ponto número um da empresa será a garantia de qualidade. A escolha do local para a instalação da fazenda marinha seguiu primordialmente a sugestão dos pescadores. As cordas da fazenda deverão ser colocadas na água em janeiro e fevereiro. Em setembro poderemos ter uma amostra dos mexilhões e podemos garantir que no Natal de 2021 os mexilhões do Peró estarão nos principais restaurantes de toda a Região Sudeste. A água do Peró não existe em lugar nenhum do Brasil, por isso a praia conquistou a Bandeira Azul – concluiu Perez.

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Paulo Araújo
Paulo Roberto Araújo fez sua carreira profissional no jornal O Globo. Prêmio CREA de Meio Ambiente, foi repórter e depois editor assistente (chefe de reportagem) da Editoria Rio durante 25 anos, com atuação voltada principalmente para o meio ambiente e o interior do Rio.