Gigogas vão continuar na Região dos Lagos

As praias da Região dos Lagos vão continuar poluídas pelo menos até domingo pelas gigogas das Lagoas de Carapebus e do Paulista, que ficam no Norte Fluminense, entre Carapebus e Quissamã, a 130 quilômetros das praias mais procuradas pelos turistas na alta temporada do verão, que começa nesta quinta-feira. A previsão é do diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas (DIBAB) do INEA, Marcelo Morel. Uma grande quantidade de equipamentos está saindo do Rio hoje, com escolta da PM, para tentar fechar a Lagoa do Paulista, cuja barra (300 metros) abriu naturalmente na madrugada desta quarta-feira. Os municípios estão pedindo ajuda do estado e do governo federal para limparem as praias.

As duas lagoas tiveram suas barras abertas no dia 14 por ação de moradores que tinham à frente um vereador de Carapebus que já foi identificado por agentes do INEA. O crime ambiental aconteceu depois do transbordamento das lagoas, que provocou a inundação das casas. Pressionada pela população, a prefeitura pediu autorização ao ICMBio para abrir a Lagoa de Carapebus. Simultaneamente, o grupo de moradores, estimulados pelo político, abriu a Lagoa do Paulista. A Polícia Federal, acionada pelo ICMBio dia 14, prometeu ir ao local nesta quinta-feira, 12 dias após o crime ambiental.

— O INEA já controlou a origem do problema, mas ainda existe muita vegetação no mar e a Lagoa do Paulista abriu naturalmente no início da madrugada de quarta-feira. Uma grande quantidade de equipamentos está sendo deslocada do Rio para fechar a barra da lagoa. São máquinas, redes, ecobags e outros materiais para impedir a saída de gigogas, que estão saindo em número muito menor. A barra tem 300 metros e, segundo os biólogos, pode ficar aberta naturalmente mais uns 15 dias – explicou Morel.

O desastre ambiental, que ocorreu na véspera do início da alta temporada e do réveillon, quando as praias ficam lotadas, foi resultado, segundo Morel, de uma sucessão de erros e de chuvas torrenciais na Serra de Nova Friburgo, onde nascem os rios que deságuam nas lagoas, que acabaram transbordando.

— Já está no auto de constatação e no meu relatório o nome do vereador que estimulou a abertura das barras. Além disso, foram feitas queimadas na orla da Lagoa de Carapebus. O objetivo era abrir espaço para instalação de comércios que iam funcionar no réveillon e também ampliar a área da praia da lagoa. Agora estamos entendendo porque chegaram gigogas queimadas nas praias da Região dos Lagos. Não entendemos também porque os agentes da Prefeitura de Carapebus não deram voz de prisão às pessoas que estavam abrindo a barra das lagoas sem autorização do ICMBio. Vamos entregar o relatório, com identificação dos responsáveis, ao MPF – acrescentou o diretor da DIBAB.

Segundo técnicos do INEA, ainda existem muitas gigogas numa faixa aproximada de sete quilômetros a partir da costa das praias da Região dos Lagos. Isso significa que elas vão continuar sujando a orla nos próximos dias. Ainda não se sabe a extensão dos danos que podem ser causados pelas gigogas que estão em praias desertas (e que podem ser arrastadas pelo mar pelas correntes marítimas) e as que eventualmente saírem da Lagoa do Paulista, que está aberta.

Gigogas vão continuar na Região dos Lagos
Foto: As gigogas estão poluindo boa parte da Praia do Peró. Foto de Otacílio Neto.

Na Praia do Peró, em Cabo Frio, a equipe da Comsercaf-Peró está trabalhando dia e noite para retirar as plantas da areia, mas não está dando conta. A limpeza está sendo feita prioritariamente no trecho certificado com a Bandeira Azul. A equipe não recebeu reforço de outras áreas da prefeitura, que também está com problemas em outras praias.

— Aqui no Pontal do Peró (final da Praia do Peró, na divisa com Búzios) 440estamos abandonados. Moradores e turistas retiraram gigogas da areia, mas elas voltarão para o mar se não forem recolhidas – lamentou a empresária Marta Rocha.

O movimento Amigos do Peró, que defende a preservação da orla do Peró, que tem 7,2 quilômetros de extensão, está pedindo ajuda aos governos do estado e da União. São necessários mais equipamentos e homens para ajudar a prefeitura a fazer a limpeza das praias, em especial as mais procuradas pelos turistas que lotam a Região dos Lagos no verão.

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Paulo Araújo
Paulo Roberto Araújo fez sua carreira profissional no jornal O Globo. Prêmio CREA de Meio Ambiente, foi repórter e depois editor assistente (chefe de reportagem) da Editoria Rio durante 25 anos, com atuação voltada principalmente para o meio ambiente e o interior do Rio.