Governança: qual sua importância no contexto ESG e suas melhores práticas?

*Por Christie Bechara

Estamos vivendo em um cenário de grandes transformações mundiais, o que certamente impactou no desempenho de muitos negócios. Porém, mesmo diante dessa conjuntura repleta de variáveis e transições, algumas certezas no mundo dos negócios seguem válidas como é o caso dos impactos da sigla ESG (Environmental, Social and Governance) que despontou com incrível popularidade e trouxe para as agendas corporativas muitas pautas estratégicas que estão orientando empresas em relação ao modo de realizar negócios mais sustentáveis, considerando os parâmetros mais atuais para atingir bom desempenho em relação aos seus impactos no âmbito social, ambiental, econômico e governança corporativa.

Mesmo com esse atual destaque para a sigla, ainda há profundos questionamentos em relação ao G, de Governança Corporativa, como: por que o tema governança aparece neste momento? Quais seriam os eixos direcionadores para se fazer uma boa governança? Quais as práticas que as empresas devem seguir? Isto auxilia a empresa a traçar melhores estratégias para sua sustentabilidade?

Ao abordar questões sobre Governança Corporativa, ainda estamos envolvidos em um processo de evolução, onde há necessidade de construção de análises e conceitos aderentes às diversas relações empresariais. Em muitas empresas, a Governança Corporativa é entendida como devida diligência, uma pauta direcionada para o atendimento às leis e normas e, a processos para verificação e auditoria. Mas, para outras empresas, com outras interpretações, governança é mais do que meramente atender ao cumprimento legal, é uma grande questão que envolve desde conceitos morais e éticos até mesmo ações práticas para o desdobrando estratégicos que podem comprometer a reputação e imagem dos negócios e dos gestores.

Atualmente, em sua 5ª edição, Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC consolidou-se como um documento de referência, com recomendações das melhores práticas de governança com o objetivo de contribuir para a evolução do tema. O documento aponta quais são os quatro princípios gerais que servem como base estratégica (e inspiracional) para a elaboração de políticas corporativas e definições estratégicas, sendo eles: Transparência; Equidade; Prestação de Contas; e Responsabilidade Corporativa.

Para alcançar boas práticas de Governança Corporativa também é preciso se atentar para questões de ordem estrutural, como a exatidão na organização dos documentos; estabelecer boa comunicação; preparar equipes integradas; atuar pela prevenção e investir em infraestrutura e tecnologia adequadas. A transparência nos processos faz com que seja possível obter informações e consultar documentos, de modo acessível e claro. A comunicação é importante para que os funcionários e demais stakeholders tenham uma visão clara da hierarquia da empresa e saibam a quem reportar em cada situação. Promover reuniões com equipes variadas faz com que todos estejam cientes dos planos e estratégias da empresa. Assim, os processos ficam mais eficientes, além de sustentar transparência interna e externa. Outra boa prática, em qualquer gestão empresarial, é atuar com foco em prevenção, ao invés de remediação, o que evita gastos de reparação e transparece mais segurança aos seus stakeholders.

Modelos de prevenção necessitam de investimentos, como um programa de Compliance, que demanda a contratação de consultores especializados que auxiliam equipes internas a compreenderem melhor os impactos do tema, e posteriormente, são indicados a realizar o processos de due dilligence — análises de riscos, monitoramento e ainda, procedimentos para auditoria externa, a fim de evitar processos judiciais danosos à imagem da empresa, investigação criminal, multa ou outros problemas derivados de fraude, corrupção assim como, a falta de aderência às leis e normas. A tecnologia pode trazer à Governança Corporativa maior confiabilidade para a gestão de dados e informações, bem como a facilidade em mecanismos de rastreabilidade, tornando todo o sistema de banco de dados menos suscetível à corrupção humana quando geridas de forma automatizada.

Dessa forma, empresas que possuem estratégias voltadas para evitar problemas, aderem ao modelo de gestão e de práticas de governança corporativa reduzem as chances de algo prejudicial ocorrer. Havendo mais transparência, comunicação e tecnologia aplicadas, os colaboradores podem melhor canalizar tempo, energia e conhecimento para aplicar a inovação e criação de novos valores (mais sustentáveis, inclusive). Em suma, seja qual for o atual modelo de gestão praticado, a boa governança só se constrói com o auxílio de profissionais especializados e competentes que oferecem todo o suporte para a estruturação das diretrizes, definição de programas e projetos ESG e, realização de capacitações para as equipes internas.
 

*Christie Bechara é Consultora de Sustentabilidade Aplicada na Fundação Espaço ECO

Artigo anteriorSTF suspende o julgamento que serve de prelúdio à necessária solução da controvérsia “negociado x legislado”
Próximo artigoConsumo de carne precisa cair em 75% para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, diz estudo
Avatar
Para falar conosco basta enviar um e-mail para redacaomeioambienterio@gmail.com ou através do nosso whatsapp 021 989 39 9273.