Moradores de Rua e Dependência Química: Como podemos ajudar?

A dependência química é uma doença que acarreta diversos prejuízos em diversas áreas da vida do indivíduo, pois é uma doença biopsicossocial. O dependente acaba por ficar refém dos efeitos prazerosos que a droga lhe proporciona e dependendo do quão danoso pode ser o uso compulsivo e obsessivo, a vida pode entrar em colapso, levando o indivíduo a perder muitas vezes dinheiro, ou bens materiais.

As pessoas que possuem problemas com álcool e drogas acabam por lidar muitas vezes com condições precárias de vida e recorrendo às ruas como sendo a única possibilidade de solução para sua sobrevivência e moradia. Por conta da vulnerabilidade que essa população de rua se encontra, nota-se nos serviços de saúde, ações voltadas para o cuidado, seja físico ou psicológico em decorrência do álcool ou drogas.

Cabe lembrar que o acesso a esses tipos de serviços a moradores de rua, acabam sendo um desafio, pois, essa parcela da população, não possui seu acesso facilitado ou o tem de modo muito precário.

Moradores de rua Brasil vs Dependência química

De acordo com o Decreto n° 7.053, as pessoas que se encontram em situações de rua representam um grupo heterogêneo que possui elementos em comum como a pobreza extrema, falta de moradia e o afastamento de seus familiares. Desta forma, essas pessoas compartilham da mesma realidade social, pois se encontram em um contexto de extrema vulnerabilidade. 

A questão dos moradores de rua no Brasil está inserida em uma complexidade de eventos e fatores. Vale ressaltar que é difícil saber ao certo a quantidade de pessoas em situação de rua no Brasil, pois as pesquisas de censos levam em consideração as pessoas em seu ambiente domiciliar, e estas não possuem moradia, o que acaba prejudicando a execução de pesquisas a respeito.

Nos anos de 2007 e 2008 foi feita uma pesquisa pelo Ministério do Desenvolvimento Social a respeito da população em situação de Rua, os fatores que levam o indivíduo a morar nas ruas incluem: o uso de álcool e/ou de drogas cerca de 35,5%, desemprego 29,% e conflitos na família 29,1%. 

A dependência química, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma doença crônica, progressiva, incurável e que pode ser fatal se não tratada. Ela se constitui como um conjunto de fenômenos relacionados ao comportamento, à cognição e a aspectos fisiológicos que acabam por se desenvolver com o uso continuado e excessivo de álcool ou drogas.

Diante disso, o indivíduo com a dependência química já instalada acaba tendo dificuldade de controlar o seu consumo devido a um fenômeno que acaba se desenvolvendo chamado de tolerância que é a necessidade cada vez maior da substância. Este fato está relacionado à compulsão e obsessão pelo consumo que torna o indivíduo na ausência do álcool ou da droga propenso a abstinência, que aparece na forma de sintomas físicos desagradáveis, o que acaba fazendo a pessoa ir em busca de mais substâncias, para cessar os efeitos entrando assim, em um ciclo que se retroalimenta.

Quais são as substâncias mais utilizadas e quais são os riscos que as mesmas oferecem?

As drogas mais usadas são o álcool, crack, cocaína e maconha, estas representam as mais comuns, principalmente na população em situação de rua. A utilização seja do álcool ou das drogas provocam efeitos prazerosos, entretanto, a longo prazo podem gerar consequências graves à saúde e/ou potencializar alguma doença já existente.

O consumo destes tipos de substâncias acaba por gerar a longo prazo, alterações no funcionamento do organismo, podendo acarretar problemas no coração, lesões no fígado, pulmão, rins e o desenvolvimento de doenças contagiosas, como AIDS ou hepatite. Além disso, o indivíduo pode acabar desenvolvendo doenças psiquiátricas como depressão ou esquizofrenia, por exemplo.

Sabe-se que a dependência química é um problema de saúde que pode gerar efeitos irreversíveis na vida do indivíduo, esta, também pode contribuir para a morte precoce se não tratada a tempo.

Drogas sintéticas

As drogas sintéticas são substâncias produzidas de forma artificial em laboratório, por meio de ingredientes químicos. Estas podem causar alucinações e alterar a percepção do indivíduo, como por exemplo o ecstasy e o LSD. 

Maconha e cigarro

A maconha é um tipo de droga ilícita extraída de uma planta chamada cannabis, e dependendo da quantidade consumida pode ter efeitos diversos no organismo de cada pessoa. Esta droga pode ser fumada ou ingerida e em um primeiro momento faz com que uma pessoa tenha sensação de relaxamento e bem-estar.

A maconha possui efeitos a curto prazo, produzindo alterações de humor, na percepção e na memória. Os efeitos prazerosos incluem sentimento de felicidade, relaxamento e bem-estar. Os efeitos indesejados incluem ansiedade, fome, sonolência e aumento da frequência cardíaca, o consumo de altas doses podem gerar sintomas psicóticos como alucinações e delírios. Vale ressaltar que tanto os efeitos prazerosos provocados pelo consumo da maconha, quanto os efeitos indesejáveis após o seu uso variam de pessoa para pessoa, do tempo de uso e da frequência.

O cigarro possui uma substância chamada de nicotina que é derivada do tabaco, este é um tipo de droga lícita, entretanto, acarreta diferentes tipos de doenças. Esta substância produz uma sensação de prazer e pode acabar induzindo a pessoa ao abuso e consequentemente a dependência também chamada de tabagismo. O consumo acarreta modificações no Sistema Nervoso Central assim como ocorre com outras substâncias. Quando a nicotina chega no cérebro faz a liberação de neurotransmissores que acabam gerando a sensação de prazer.

Com o uso contínuo o organismo do indivíduo se adapta e começa a sentir necessidade de doses cada vez maiores, com a evolução da dependência a pessoa pode acabar aumentando ou desenvolvendo o risco de ter doenças crônicas que podem ser fatais. Além disso, os prejuízos também são causados às pessoas que são expostas à fumaça do cigarro, que são chamados fumantes passivos.

Crack 

Assim como acontece com o consumo de álcool e drogas, o consumo do crack acaba acentuando os problemas sociais que já existem na sociedade, trazendo assim sofrimento aos familiares e consequentemente impactos econômicos. Diante disso, na década de 1990 o surgimento e aumento do consumo de crack acabaram por intensificar as condições de vulnerabilidade, principalmente da população mais carente.

O consumo de crack no Brasil aumentou entre crianças, adolescentes e adultos que moram na rua. Por ser uma droga estimulante quando esta substância atinge o cérebro produz prazer e satisfação, causando assim posteriormente dependência física. Sendo assim, por agir no sistema nervoso central acaba acelerando os batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, excitação, tremores e dilatação da pupila. 

O crack é uma droga que age no Sistema Nervoso Central como estimulante, possuindo assim um efeito rápido no organismo e um alto nível de dependência. Os indivíduos que a utilizam acabam desenvolvendo uma dependência muito severa, que pode acontecer em poucos meses ou semanas de uso.

Álcool

O consumo de bebida alcoólica tende a prejudicar a saúde tanto a curto ou longo prazo a depender do organismo do indivíduo ou de fatores genéticos. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), não existe uma quantidade dessa substância que seja segura para ser consumida, pois é uma substância considerada tóxica para o organismo. 

Além disso, é responsável por gerar e provocar diversos tipos de doenças tanto fisiológicas quanto psicológicas, como diversos tipos de câncer, problemas cardiovasculares, risco de acidente vascular cerebral, diminuição da imunidade e depressão por exemplo. 

Esta substância é consumida com frequência pela população em situação de rua. Muitas pessoas moram na rua devido a problemas com o consumo de álcool, assim como também existem os casos em que os próprios moradores de rua passam a fazer a sua utilização para assim suportar as dificuldades vivenciadas.

Diante disso, o uso de álcool e de drogas acabam sendo para as pessoas em situação de rua, uma espécie de escape e alívio de seu sofrimento emocional ou físico. Uma vez identificado, é importante encaminhar o indivíduo para receber o devido tratamento para alcoólatra a fim de possibilitar o mesmo a se livrar da dependência.

Como ajudar moradores de rua que possuem problemas relacionados a dependência

O acesso dos moradores de rua a serviços de saúde, representa uma questão bastante difícil e que precisa ser mais bem articulada entre os setores públicos responsáveis pela área da Assistência social, Segurança Pública e Habitação. O CAPS ad por exemplo é um serviço de saúde mental, entretanto, os cuidados com essa população apresentam muitos déficits pois ainda precisa ser ampliado, além do indivíduo morador de rua ser visto como um sujeito que está em reconstrução em todos os aspectos sejam éticos, políticos ou sociais.

Portanto, é preciso que haja mais ações voltadas a ajudar esse público o acolhendo e derrubando estigmas voltados a eles pois ainda sofrem muito preconceito e discriminação tanto por serem moradores de rua quanto por utilizarem substâncias químicas.

Acompanhamento psicológico

O acompanhamento psicológico é um método de intervenção realizado por um psicólogo que tem por objetivo tratar dos problemas psicológicos e emocionais do indivíduo. Ela trata de questões internas do sujeito que estejam prejudicando a sua vida, o auxiliando a melhor lidar com suas dificuldades e doenças. 

Para as pessoas em situação de rua, existe uma Política Nacional de Atenção Básica, chamado de consultórios de rua, que tem por objetivo facilitar o acesso dessa população a serviços de saúde.

Clínica de reabilitação

As clínicas de reabilitação oferecem uma estrutura apropriada para dar o devido suporte e auxílio aos dependentes de álcool e outras drogas. Estas visam oferecer um tratamento especializado pois possuem uma equipe multiprofissional, composta por profissionais de diferentes áreas, como médicos, enfermeiros, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais.

Sendo assim, o principal objetivo de uma clínica de reabilitação é fazer a desintoxicação de substâncias químicas do organismo do dependente químico e tratá-lo de modo a fazer com que ele seja reinserido na sociedade de modo saudável.

Importância de adquirir novos hábitos

A dependência química é uma doença que possui muitos agravantes à saúde do indivíduo pois é uma doença biopsicossocial, mas, com o esforço e a dedicação é possível superar os velhos hábitos de vida. O restabelecimento de vínculos sociais, é essencial para a aquisição de novos hábitos pelo dependente, o que possibilita a continuidade do processo de recuperação.

A ajuda e apoio dos familiares também se torna essencial para a modificação de velhos padrões de comportamento e manutenção de novos hábitos. Desta forma, para que ocorram mudanças no estilo de vida do dependente, este necessita aceitar que possui uma doença, para que assim possa construir novos objetivos e projetos de vida se mantendo longe do uso de álcool e drogas.

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Lucas W. Pelisari é escritor, formando em Investigação Forense e Perícia Criminal. Cursa Direito e atua profissionalmente no marketing. Sua especialidade é empreendedorismo e marketing digital.