Novo relatório climático faz “ultimato” para comunidade mundial

Na semana passada, o mundo teve acesso ao 6º relatório produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em português), um importante instrumento de avaliação científica sobre a mudança do clima, suas implicações e possíveis riscos futuros, bem como para propor políticas imediatas de preservação ambiental. Criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU Meio Ambiente) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o IPCC é a maior autoridade mundial a respeito do aquecimento global, sendo responsável por determinar o cenário sobre a mudança do clima, identificação de consenso na comunidade científica para promover as ações, e em que áreas mais pesquisas são necessárias. 

Neste novo informe, ao longo de suas 37 páginas, os 95 cientistas pontuam que os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) não têm sido suficientes. Além disso, as opções disponíveis para adaptação às mudanças climáticas estão se tornando mais limitadas e menos eficazes a cada incremento no aquecimento. Com isso, a década atual é crucial para mitigar efeitos de um clima que já está mudando para pior. Ou seja, as consequências já estão sendo impostas e, daqui para frente, só nos resta trabalhar para que sejam menos danosas para a sociedade. 

É unânime entre a comunidade internacional de que se trata de um alerta final e que algo precisa ser feito, já que as concentrações de dióxido de carbono estão no seu ponto mais alto em pelo menos dois milhões de anos. Para se ter uma ideia ainda melhor sobre a gravidade, o estudo mostra que mais de 3 bilhões de pessoas vivem em locais “altamente vulneráveis” às mudanças climáticas. Outro dado alarmante apresentado é que a temperatura média global já está 1,1 °C mais alta na comparação com os níveis pré-industriais. O resultado disso já estamos vivenciando: eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, com incêndios florestais, inundações e muito prejuízo para a vida em todas as regiões do mundo. 

De acordo com as conclusões do report, ações climáticas urgentes são necessárias em todas as frentes e devem ser priorizadas o quanto antes. Parafraseando o filme vencedor do Oscar 2023, para a ONU, as iniciativas precisam de “tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”. Há, ainda, metas que deverão ser perseguidas: limitar o aquecimento da temperatura a 1,5 °C até 2030, diminuição das emissões de GEE quase pela metade — com freio na produção de combustíveis fósseis — e atingir emissões líquidas de CO2 negativas no início da década de 2050. Por fim, os investimentos anuais na redução de gases-estufa nesta década devem ser três a seis vezes maiores dos níveis atuais, para conter o aumento da temperatura. Esse aumento é crucial para reforçar a resiliência climática, especialmente nos países em desenvolvimento. Só que diferentemente do que estamos acostumados até então, essas metas serão perseguidas com os impactos já atingindo a nossa sociedade. 

Apesar do cenário altamente desfavorável, o Brasil tem uma janela de oportunidades para se destacar, graças principalmente à sua matriz energética mais diversificada, com participação expressiva de fontes de energia renováveis. É preciso ter políticas descarbonizadas e, nesse contexto, sempre gosto de valorizar o papel do Carbon Disclosure Project (CDP), considerado a maior e mais importante iniciativa mundial de monitoramento, gestão e divulgação de insights a respeito do tema. O Grupo New Space faz parte desde 2009, reportando, anualmente, as nossas emissões de carbono em um inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE), visando sempre as melhores práticas de modo a reduzirmos os impactos nas mudanças climáticas e progressões em relação ao inventário anterior. 

Porém, o 6º relatório do ICCP foi claro: por ser um desafio de magnitudes globais, são necessárias mais do que ações corporativas. O período exige soluções globais, com cada país necessitando fazer a sua parte. Exigir que os outros se movam primeiro só garante que a humanidade venha em último lugar. Infelizmente, urgência e emergência são conceitos que andam cada vez mais próximos. A natureza é inegociável e a mudança precisa iniciar agora.


*Por Andrea Cominato, diretora de marketing e sustentabilidade do Grupo New Space

continua após a publicidade
Artigo anteriorMais de 190 milhões de crianças em 10 países africanos estão em risco devido a “tríplice ameaça”, diz Unicef
Próximo artigoVentos influenciam tempo no Rio de Janeiro com pancadas de chuva isoladas
Redação
Para falar conosco basta enviar um e-mail para redacaomeioambienterio@gmail.com ou através do nosso whatsapp 021 989 39 9273.