O que vai ser das relações de trabalho em startups depois das demissões em massa?

Temos recebido notícias constantes sobre as demissões em massa feitas por grandes startups brasileiras. De forma geral, é indiscutível: isso causou uma insegurança enorme em todos os colaboradores dessas empresas.
 

A “pejotização” das contratações no mercado de trabalho, incentivada após a reforma trabalhista, também não ajuda. De volta à busca de emprego em um mercado extremamente desafiador, muitos desses trabalhadores não têm o apoio do auxílio-desemprego, que costumava ser um respiro em tempos difíceis.
 

“Tempos difíceis”. Esse termo já parece insuficiente para definir os dias atuais.
 

Quando se trabalha com empreendedorismo inovador, é importante compreender que esse tipo de empresa tem suas particularidades. Uma das principais é o perfil de colaborador que ela procura para seu quadro de funcionários.
 

Pela necessidade de compor um quadro com pessoas que tenham flexibilidade de alterar seus planos e seu cotidiano de trabalho rapidamente e frequentemente, as startups tendem a contratar profissionais mais jovens. No entanto, eles precisam de uma postura diferenciada de seus líderes para performar da melhor forma. E, antes de qualquer coisa, eles precisam ver propósito e acreditar no trabalho que entregam à empresa e ao consumidor. Eles são movidos por inspiração quanto ao negócio e seus criadores. Ou seja, essa é uma grande responsabilidade de bons líderes.
 

Em busca de mudança, de uma vida que traga satisfação pessoal e profissional em conjunto, este profissional escasso no mercado escolhe trabalhar em startups. E ser parte de um desligamento em massa neste momento pode esmagar todo o ideal que o atraiu para a inovação em primeiro lugar.
 

Neste caso, as startups em estágios mais avançados não obtiveram as novas rodadas de investimentos que buscavam, por isso tiveram que reduzir suas operações. No primeiro semestre deste ano, os investimentos em startups caíram 44%, segundo o Distrito. No entanto, quando nossas taxas de juros estiverem em um patamar mais próximo ao normal, é esperado que seu crescimento seja retomado.
 

Se não por questões de empatia e respeito ao próximo, este é um motivo prático pelo qual é importante estar consciente dos processos de gestão de pessoas, inclusive quando se trata de demissões. A forma como elas foram conduzidas, coletivamente e sem dar a chance de qualquer comentário por parte dos funcionários, vai impactar o cotidiano de trabalho até de quem permanece nas empresas.
 

A relação de trabalho dentro das startups será um grande desafio daqui para frente e precisará ser reconstruída. Os colaboradores precisarão ser reconquistados quanto ao propósito e estrutura da startup, com a ideia de que seu esforço será recompensado com estabilidade e que participam de algo que continua relevante no mercado. Tanto para os profissionais que permanecem no quadro, quanto para as futuras contratações.
 

É preciso demonstrar que a startup é um projeto sólido, com norte financeiro, que já passou por auditorias e que os cortes estratégicos já foram feitos. A mensagem deve ser passada tanto externamente quanto internamente de que aquela é uma empresa na qual o profissional pode acreditar e se concentrar. Este é um grande desafio para o setor de recursos humanos das startups a partir deste momento. É imprescindível manter a energia de seus colaboradores para que eles sigam desempenhando suas funções e, dessa forma, a própria empresa se mantenha ativa no mercado.
 

* Thiago do Val é advogado, empreendedor, professor no MBA em Relações Institucionais e Governamentais (RIG) na Universidade Presbiteriana Mackenzie, palestrante, consultor e mentor de negócios inovadores no InovAtiva Brasil.

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