PETROBRAS VIVE TRANSIÇÃO, E ‘MEGADIVIDENDO’ NO 4TRI22 TEM POUCAS CHANCES DE SAIR

Por Gabriel Vasconcelos e Denise Luna

Rio, 03/11/2022 – A Petrobras registrou lucro de R$ 46 bilhões no terceiro trimestre do ano, 48% acima do mesmo período no ano passado e superior à expectativa do mercado. O resultado espelha a resiliência na produção da companhia na passagem do segundo para o terceiro trimestre e o impacto negativo da queda de 11,4% na cotação do petróleo no período, que também ditou o movimento dos derivados. A baixa no valor dos produtos foi parcialmente compensada pela apreciação do câmbio, que saltou de R$ 4,92 no segundo trimestre para US$ 5,25 na média de julho a setembro.

Dividendos questionados. Maior ponto de interesse do mercado, a companhia conseguiu, mais uma vez, adiantar dividendos em montante significativo, de R$ 43,68 bilhões, na tentativa de driblar eventual aumento de impostos sobre dividendos à frente, um dos objetivos do governo eleito, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao que tudo indica, pode ter sido a última vez que a estatal lança mão do expediente, uma vez que membros da equipe de transição se opõem à prática sob o argumento de esvaziar a capacidade de investimento da companhia. A divulgação dos resultados do quarto trimestre e a decisão sobre novos dividendos vai acontecer já sob o governo Lula. O atual Conselho de Administração, mesmo que permaneça por alguns meses até eventual assembleia de acionistas, estará sob pressão e não deve comprar briga com o governo federal. Uma assembleia geral ordinária já está prevista para março, quando o novo governo poderá trocar presidente e conselheiros. Mas isso pode ser feito até antes, por meio de assembleia extraordinária.

Investimentos à vista. Se a política de dividendos deve minguar à frente, os investimentos em exploração e produção, e em outras frentes, como refino e energia renovável (biocombustíveis de última geração, eólica offshore e hidrogênio verde) -, devem ser turbinados por uma nova gestão, em que as cartas serão dadas pelo governo Lula, que poderá indicar seis de 11 conselheiros via União e deve contar, também, com o voto da representante dos empregados, Rosângela Buzanelli.

Pressão. Embora o governo vá mudar, a pressão contra a política de preços de combustíveis da estatal deve se manter. Em campanha, Lula e integrantes de seu grupo de governo falaram reiteradamente em abrasileirar preços dos combustíveis, ou seja, trabalhar com preços em reais e eliminar da formação dos preços da companhia fatores externos como o valor do frete, que não incide diretamente sobre as operações da Petrobras. Os preços da gasolina e do diesel, portanto, não devem ser reajustados para cima em refinarias como aconteceu durante os primeiros três anos e meio do governo de Jair Bolsonaro (PL). Mas o espaço para reduções agressivas é limitado, uma vez que o País é dependente de diesel estrangeiro e preços da Petrobras muito abaixo da paridade de importação desestimularia a atividade dos grandes e médios importadores, colocando em xeque a segurança do abastecimento do País. Some-se a isso, a esperada alta das cotações desse combustível no exterior em meio a uma tempestade perfeita formada pela chegada do inverno no hemisfério norte e efetivação das sanções ao diesel russo a partir de fevereiro.

GLP. É improvável que esse equilíbrio entre falta de reajuste e solavancos para baixo valha para o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Um dos coordenadores do programa de governo do PT e homem forte da transição, o ex-ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, já disse que o gás de cozinha (GLP) é prioritário para o novo governo e deverá ter os preços rebaixados para facilitar o acesso das camadas mais pobres da população, que consomem o produto largamente. Não foram poucos os sinais de que a Petrobras sob Lula deve baixar os preços do GLP sem atenção à política de preço de paridade internacional (PPI). Após o fechamento do mercado, na terça-feira, o GLP da Petrobras era comercializado a um preço 37,02% acima do PPI, o que tende a ser rapidamente revertido a partir de 1º de janeiro, ou até mesmo antes.

Guerra. Fator que independe do cenário político nacional, a cotação do preço do petróleo tem sido decisiva na performance econômica da companhia, e vem sendo impulsionada pela recuperação da atividade econômica pós covid-19 e pela continuidade da guerra entre a Rússia e Ucrânia, em que pese as variações na demanda chinesa, ainda à voltas com o coronavírus. No segundo trimestre, o preço do petróleo tipo Brent ainda estava acima dos US$ 100 o barril, mas oscilou para baixo dessa marca no terceiro trimestre, rebaixando os resultados financeiros de petroleiras pelo mundo. Embora casas de análise prevejam manutenção do preço do barril entre US$ 90 e US$ 95 até o fim do ano, um recuo no valor da commodity, ligado a um eventual encerramento do conflito no leste europeu, pode reduzir decisivamente os ganhos da companhia. Por outro lado, reduções na oferta da commodity por países produtores reunidos na Opep+ pode dar novo fôlego às cotações, ampliando os ganhos da Petrobras no Brasil.

Adeus desinvestimentos. Metade do parque de refino da companhia foi efetivamente posto à venda durante o governo Jair Bolsonaro (PL-RJ), mas pouco andou: somente refinarias menores e um único ativo de refino relevante, a Refinaria da Bahia (ex-Relam), foi vendida à Acelen, braço do fundo Mubadala no Brasil. Atualmente à venda, refinarias de peso como Repar (PR), Renest (PE) e Refap (RS) dificilmente vão mudar de mãos sob Lula, uma vez que o novo governo atribui parte da segurança energética nacional ao parque de refino da Petrobras, que tende mesmo a ser ampliado. Essa é, de fato, uma guinada viabilizada pela troca de governo. De ativos à venda, refinarias voltam ao centro da estratégia da Petrobras, junto com a exploração e produção de petróleo, seu negócio principal, e energias renováveis, frente que deve começar a ser desenvolvida por uma eventual nova gestão, a fim de colocar a petroleira em pé de igualdade com empresas estrangeiras que há muito buscam se transformar em plataformas de energia diversificada.

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