Saneamento de Cabo Frio será prioridade no Governo Bonifácio

“Temos que retomar a cidade”. Engenheiro civil, especializado em engenharia sanitária, funcionário de carreira da Prefeitura de Cabo Frio, Juarez Lopes assume dia 01 de janeiro o cargo de secretário municipal de Meio Ambiente e Saneamento com um mar de desafios à frente. Num momento complicado da administração pública, em meio a uma pandemia, ele recebeu a missão do prefeito eleito, José Bonifácio (PDT), de comandar a luta histórica para mudar o conceito de saneamento que existe na cidade cercada pelo mar e pela Lagoa de Araruama.

Ex-secretário de Meio Ambiente (2005/2006), Juarez garante que haverá uma mudança de postura do município na sua condição de poder concedente no saneamento básico. O sistema de captação de esgotos em tempo seco, na sua opinião, não é um vilão, mas foi uma medida paliativa, temporária, mas que ficou permanente nos últimos 17 anos devido à falta de investimentos na construção de redes separativas (o esgoto é lançado em galerias de águas pluviais). Na nova gestão, o saneamento foi incorporado no nome da atual secretaria do Meio Ambiente.

— Temos que ter uma mudança de postura no município, voltar a fazer saneamento. O Zé (prefeito José Bonifácio) é capaz de dar uma guinada e para isso precisa de pessoas competentes numa prefeitura que vive um momento complicado do ponto de vista de gestão. Vamos em busca das redes separativas para já, com prioridade para os bairros mais adensados. Não dá para tocar de forma isolada ações de abastecimento de água, de captação e tratamento de esgotos, de coleta de lixo e de drenagem urbana – disse Juarez Lopes.

O crescimento desordenado, incluindo as invasões em áreas de preservação, também preocupa o novo secretário. “Temos um patrimônio ambiental muito grande. Não podemos conduzir a gestão com a mesma lógica de outras cidades que deixaram estragar sua principal riqueza, sua galinha dos ovos de ouro”. Nos planos de Juarez, está a fixação de capacidade de carga das áreas de preservação mais procuradas de Cabo Frio, com possibilidade de cobrança de ingresso para manutenção dos parques públicos:

— Não podemos continuar patinando no mesmo lugar. Os técnicos vão estabelecer qual é a capacidade de carga dos locais mais procurados, como a Ilha do Japonês. Vão estudar a biota e definir quantas pessoas comportam naquele local. Muitas áreas são particulares. A propriedade particular é sagrada, mas têm uma função social também. O proprietário, numa parceria público-privada, tem que respeitar o direito de governança do município.

A transferência da secretaria para Tamoios, já anunciada por José Bonifácio, não vai prejudicar as ações ambientais nas áreas protegidas do Centro e da Costa do Peró, assegura Juarez Lopes, que pretende formar uma equipe técnica. Ele lembra que Tamoios tem um grande patrimônio ambiental, como o Parque do Mico-Leão Dourado e o Rio São João, que jamais tiveram o reconhecimento do governo municipal:

— Tamoios tem um patrimônio ambiental absurdo e graves problemas fundiários. Olhar para o local é fundamental. Mas não se pode cobrir um santo e despir outro. O licenciamento ambiental e a estrutura de fiscalização no Centro e do Peró não serão prejudicados. Não vamos desativar nenhuma unidade operacional. E vamos desburocratizar o licenciamento ambiental usando os meios digitais para facilitar a vida das pessoas – anunciou.

Consciente da importância do projeto Bandeira Azul na Praia do Peró, Juarez Lopes promete não somente consolidar o programa como também leva-lo para outras praias da cidade. O foco é a ordem urbana, que ele não vê nas praias de Cabo Frio.

— Me angustia ver as praias com aquela ocupação de shopping center. Vende-se de tudo, até refeições, por pessoas que vêm de longe e só aparecem na alta temporada. Tem muita gente na praia fazendo negócio. Bandeira Azul é um belo projeto, mas que só pode ser desenvolvido com pessoas educadas, com política ambiental. O conceito disciplinar é condição de governança. Pretendemos levar a disciplina para outras praias, como o Forte, Foguete e Tamoios – acrescentou.

Juarez Lopes disse que José Bonifácio tem cobrado projetos para melhorar a drenagem urbana de Cabo Frio, além de programas para reciclagem do lixo urbano:

— Não temos programa municipal de coleta seletiva com participação de vários atores. O sistema de drenagem urbana do município é muito antigo. Não se limpa bocas de lobo e restaurantes jogam gordura nas redes de águas pluviais. Temos que mudar esta situação – concluiu.

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Paulo Roberto Araújo fez sua carreira profissional no jornal O Globo. Prêmio CREA de Meio Ambiente, foi repórter e depois editor assistente (chefe de reportagem) da Editoria Rio durante 25 anos, com atuação voltada principalmente para o meio ambiente e o interior do Rio.