Seis meses de guerra: por que o confronto entre Rússia e Ucrânia ainda não terminou?

Professora Flávia Rezende, do curso de Relações Internacionais da FSG, explica os fatores que impedem uma possível reconciliação entre as duas nações

No próximo dia 24 de agosto, completa 6 meses que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia, ocasionando uma guerra que afeta e ainda afetará a economia de muitos países. Apesar do apoio que a Ucrânia recebeu por parte dos países do Ocidente, nada foi capaz de impedir os ataques russos no início. Mas afinal, por que essa guerra ainda não teve um fim?
 

Segundo a professora do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário da Serra Gaúcha — FSG, Flavia Carolina de Rezende Fagundes, até o momento, tanto a Ucrânia quanto a Rússia, não estão tendo os resultados que esperavam. “Moscou não esperava a robustez do apoio que a Ucrânia recebeu do Ocidente, em termos de apoio diplomático, armamentos e treinamentos, possibilitando uma capacidade de resistência maior do que o esperado pela Rússia. No entanto, diante da crise inflacionária que atinge o mundo na atualidade, as sociedades europeias e norte-americanas começam a deixar de ter o apoio a Ucrânia como prioritário, uma vez que crescem as pressões internas, colocando o governo ucraniano na busca de manter o interesse no conflito.”
 

Para Rezende, a guerra tem materializado as tensões entre o Ocidente, China e Rússia. “De forma mais ampliada, a questão fulcral é a disputa estratégica entre as duas grandes potências (China e Estados Unidos), sendo a Rússia o elo mais fraco, portanto o espaço de conflito. Nesse sentido, temos assistido tensões também em torno da questão de Taiwan, com a viagem da presidente da Câmara dos Estados Unidos à ilha que causou uma reação por parte da China”, ressalta.  
 

De acordo com a especialista, a guerra é interativa, onde um ator se move em resposta ao outro e dessa maneira, os objetivos se alteram durante o conflito. Em um primeiro momento, a Rússia parecia se satisfazer com a conquista das áreas do Dombas, mas recentemente, o governo russo admitiu ter como objetivo a derrubada do governo de Volodymyr Zelensky, que é um aliado do Ocidente. Dentro dessa lógica, o governo Zelensky tem a sua própria sobrevivência ligada à vitória nesta guerra, o que o coloca em uma posição de tudo ou nada, restringindo o espaço para negociação. “Ao mesmo tempo, o Ocidente busca a derrubada de Vladimir Putin. Com essas posições extremas, o espaço de negociação e as possibilidades de paz são restritas, apontando para um prolongamento de uma guerra desgastante”, opina.  
 

Flávia aponta que no início do conflito, a União Europeia e principalmente os Estados Unidos, poderiam ter atuado na promoção de uma saída diplomática, algo que infelizmente não aconteceu. No começo do ano, o governo russo enviou uma carta para Washington propondo negociações em torno da questão ucraniana, uma vez que para a Rússia a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN é vista como uma linha vermelha, mas não houve boa vontade por parte do governo norte-americano.

“Atualmente a Europa se vê em uma encruzilhada, se por um lado depende da energia russa, por outro existe ainda a pressão norte-americana para adotar uma postura dura em relação à Rússia, evidenciando a falta de autonomia dos europeus na sua política externa”, avalia.   

Até agora, a Ucrânia já teve cerca de 80% de sua infraestrutura destruída e provavelmente vai perder uma parte de seu território, podendo até perder o acesso ao mar “O pós-guerra terá que envolver um plano de reconstrução da Ucrânia e com isso, fica a questão de que se haverá o interesse das grandes potências em investir no país”, esclarece a docente.  

Sem nenhuma previsão para o término da guerra, a professora do curso de Relações Internacionais da FSG, ressalta que ainda não é possível prever por quanto tempo se estenderão os efeitos do conflito na economia global, que assusta diversos países, entre eles o Brasil. 
 

“No início do mês de agosto foi anunciado o levantamento ao bloqueio dos portos ucraniano para aliviar a crise global de alimentos e a escassez, porém ainda há muitas dúvidas sobre os efeitos da medida, uma vez que os mercados são muito influenciados pelas expectativas, que ainda são incertas. Portanto, é difícil conseguir prever o fim desse ciclo inflacionário, porém já existem sinais de desaceleração da inflação nos EUA e também no Brasil.”
 

Por fim, Flávia comenta que sobre a aparição de sinais indicando o final da guerra: “Não há como saber, mas alguns acontecimentos podem ter efeitos no conflito. Em novembro haverá eleições para o Congresso norte-americano, e a expectativa é que os republicanos ganhem o controle do Congresso, o que pode dificultar o envio de ajuda para a Ucrânia, uma vez que os republicanos tendem a se focar mais nas questões internas e serão oposição. Além disso, a proximidade do inverno europeu e a necessidade de garantir o fornecimento de energia também enfraquece o apoio europeu à Ucrânia”, finaliza. 

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