Setor de petróleo e gás dos EUA usa Ucrânia para impulsionar expansão, diz relatório

Análise revela como indústria promoveu a "energia de fabricação americana" em resposta a choques globais

Uma nova pesquisa do think tank climático InfluenceMap revela como o setor de petróleo e gás dos EUA utilizou a guerra na Ucrânia e os preços mais altos da energia para impulsionar a produção doméstica de combustíveis fósseis. No período que antecedeu a invasão e nas semanas seguintes, o setor utilizou várias estratégias para captar a narrativa pública sobre a causa da crise dos preços da energia por meio de informações falsas, diz a pesquisa revelada hoje (25).
 

Entre as mensagens analisadas estão declarações públicas de executivos da ConocoPhillips, Chevron, Associação Americana do Gás e outros, que procuraram culpar a política climática pelos altos preços da energia ou promoveram a energia fóssil produzida nos EUA como parte da solução. Muitas dessas reivindicações em torno da causa da crise foram desmascaradas pela equipe de checagem de fatos da agência de notícias AFP.
 

Um dos principais atores neste esforço de lobby – o American Petroleum Institute (API) – utilizou o Facebook para impulsionar sua mensagem de “energia de fabricação americana” e “gás natural e petróleo americanos”, utilizando reivindicações em torno da segurança energética e da independência energética dos EUA.
 

Entre 26 de janeiro (quando o API mencionou especificamente a crise da Ucrânia) e 1º de abril, a organização criou e veiculou 761 anúncios por meio de sua página ‘Energy Citizens’ (Cidadãos da Energia). Isto incluiu uma extensa campanha publicitária promovendo a energia produzida nos EUA e a independência energética, consistindo em 233 anúncios individuais, que receberam 19,6 milhões de impressões.
 

Em comparação, nos três meses finais de 2021, a página ‘Energy Citizens’ da API criou apenas 67 anúncios referentes a energia/segurança nacional ou independência energética, que foram vistos 6 milhões de vezes.
 

Em resposta às conclusões do relatório, o senador democrata dos EUA Sheldon Whitehouse disse: “A indústria não levou tempo nenhum para transformar a situação perigosa na Ucrânia em uma vantagem financeira para os executivos do petróleo e gás e seus acionistas. A implementação de informações errôneas para capitalizar uma crise internacional é típica do bem gasto e desagradável livro de jogadas da indústria de combustíveis fósseis”.
 

A co-fundadora da Clean Creatives, Christine Arena, disse: “Muita atenção tem sido dada à história demonstrável da indústria de combustíveis fósseis de negar a ciência climática. Mas como revela a análise do InfluenceMap, o tipo de desinformação climática que prolifera desde a invasão da Ucrânia é mais enganosa, generalizada e perigosa – com a participação direta dos CEOs da indústria e um impacto a curto prazo nas políticas públicas”.
 

Sucesso
 

Desde a invasão da Ucrânia, várias das políticas ‘pedidas’ pela indústria têm sido bem sucedidas. Por exemplo, a Comissão Federal de Regulamentação Energética (FERC) dos EUA recuou de um plano para considerar como os projetos de gás afetam a mudança climática e as comunidades locais. O setor também obteve sucesso em assegurar um compromisso para acelerar a aprovação de novos projetos de gás.
 

Enquanto Mike Wirth, CEO da Chevron, e Ryan Lance, CEO da ConocoPhillips, procuraram culpar as políticas climáticas pelos recentes picos de preços de energia, o setor se opôs às políticas estaduais que reduziriam a demanda por petróleo e gás. Por exemplo, proibições de gás em novos edifícios em Nova York, mandatos de etanol em Iowa e incentivos para veículos elétricos na Virgínia.
 

“O setor de petróleo e gás dos EUA tem defendido consistentemente políticas que permitem novas ou maiores explorações de combustíveis fósseis, e contra políticas que reduziriam a demanda. Mas o que mudou nos últimos meses é a intensidade dessa mensagem”, avalia Faye Holder, gerente de Projetos do InfluenceMap.
 

“A indústria se mobilizou rapidamente em torno da guerra na Ucrânia e dos altos preços do gás para promover a necessidade de mais “energia de fabricação americana”, muitas vezes confiando em reivindicações potencialmente enganosas ou questionáveis”, conclui.

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Redação
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