Uma oportunidade de repensar a mobilidade urbana nas metrópoles brasileiras

Quando revisitamos a história da construção das malhas viárias brasileiras, observamos  que a configuração urbana atual foi criada sem levar em conta um modelo de transporte público moderno, o que ocasionou direta ou indiretamente ao longo do tempo uma qualidade do serviço de transporte público muito abaixo da expectativa do usuário, tarifas elevadas, diminuição da acessibilidade e mobilidade (principalmente para os clientes de transporte público com baixo poder aquisitivo), excesso de engarrafamentos e elevado nível de poluentes no ar.

Além disso, a logística urbana atual não oferece acessibilidade condizente para as pessoas de baixa renda realizarem as suas necessidades com segurança e qualidade, na medida em que o planejamento urbano e de transporte não consideram a demanda de transporte vinculada à demanda das atividades, resultando em um serviço homogêneo e com atendimento inadequado a essa população.

Uma das causas desse problema pode ser atribuída à desarticulação existente entre o sistema de transporte e o planejamento do uso do solo, que colocou a lógica do modelo rodoviarista como estratégia para melhorar a qualidade de vida. Porém, com o passar do tempo, observou-se que esse modelo não foi capaz de garantir a manutenção da qualidade de vida no meio urbano. A implementação desse sistema ocasionou concentração de investimentos (públicos e privados) nas áreas centrais e nobres, déficit de infra-estrutura urbana (luz, água, esgoto, transporte), comércio, serviço de lazer e de emprego nas áreas periféricas, além de ter aumentado as distâncias entre os locais de origem e destino – principalmente de moradia/trabalho.

A pandemia atribuída ao Covid-19 deu luz a esse cenário – quando visualizamos parte da população com menos recursos e dependente de transporte público tendo que se deslocar no meio urbano sem as devidas precauções descritas pelos entes públicos. Fica notório que o sistema atual de transportes das metrópoles brasileiras, além de excludente e poluente, coloca em risco a vida de vários cidadãos que necessitam de um meio de transporte com preços mais acessíveis para o seu deslocamento diário. No período pós Covid-19 não visualizamos nenhuma mudança estrutural no sistema de transporte.

Temos que aproveitar o momento atual para abrir um amplo debate em relação a “Qual cidade nós queremos?”. Não podemos perder a oportunidade de buscar a construção de um espaço urbano mais sustentável, menos poluente, mais distributivo e igualitário. Alguns países da Europa estão incluindo como estratégia o uso da bicicleta como modal para evitar aglomerações nos transportes públicos. Nesse momento, salvar vidas está relacionado a criação de novos modelos e estratégias para melhoria da mobilidade urbana.

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