Zerar emissões de gases de efeito estufa até 2050 é meta possível, diz executivo da Shell

Vice-presidente de Engenharia de Tecnologia da companhia detalha estratégia da multinacional em evento do RCGI em São Paulo.

Uma missão possível. Assim o vice-presidente de Engenharia de Tecnologia da Shell, Ajay Mehta, definiu o objetivo da multinacional anglo-holandesa de zerar as emissões de gases de efeito estufa da empresa até 2050. “Não fomos a única companhia a divulgar uma meta de zerar as emissões até lá. Várias declararam intenções similares de atingir esse propósito bastante ambicioso. Isso exigirá não apenas inovação tecnológica, mas uma quantidade gigantesca de determinação e acho que indústria, universidades e governos terão de se unir para fazer isso acontecer”, afirmou Mehta em palestra proferida na conferência anual do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), no dia 25 de outubro, ocorrida no Centro de Difusão Internacional da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.

A estratégia da empresa está em linha com a meta do Acordo de Paris, firmado entre 195 países em dezembro de 2015, durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que busca limitar o aumento na média da temperatura global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, afirmou o executivo. No plano da Shell, que segue a padronização do Greenhouse Gas Protocol, três escopos de emissões são definidos. O escopo 1 engloba as emissões diretas de todas as operações da companhia, que incluem a exploração e a produção de petróleo e gás, processamento, refino, além da produção de substâncias químicas. O 2 compreende as emissões indiretas, provenientes da energia (eletricidade, por exemplo) comprada de terceiros. E o escopo 3 diz respeito às emissões geradas pelos consumidores da empresa, principalmente na utilização dos produtos vendidos pela companhia. “Para nós, não é suficiente reduzir as emissões diretas dos nossos produtos; precisamos levar em consideração também as emissões dos produtos quando eles são utilizados”, disse Mehta.

A companhia estima que o pico de emissões totais de carbono provenientes da energia produzida e vendida por ela tenha ocorrido em 2018, quando calcula-se que 1,7 gigatoneladas anuais tenham sido lançadas na atmosfera. Uma meta intermediária é reduzir pela metade as emissões dos escopos 1 e 2 — que representam 15% dos GEE considerados no protocolo — até 2030, em comparação com os níveis de 2016. O restante — 85% — vem do escopo 3. “Acho que fomos a primeira empresa a admitir publicamente que não seria suficiente abordarmos apenas os escopos 1 e 2”, afirmou Mehta. “E temos menos de 30 anos para zerar todas essas emissões.”

A fim de cumprir o objetivo progressivamente, a empresa distingue alguns pilares ou “blocos constituintes”. O aumento da eficiência operacional é um deles, sendo que uma das metas é acabar com a queima de gás durante as operações e reduzir ao mínimo possível os vazamentos de metano. Outro bloco está na mudança do portfólio da empresa em direção ao gás natural.

“No passado, produzíamos cerca de 70% de petróleo e 30% de gás natural; até o final da década provavelmente veremos entre 55% e 60% de nosso portfólio global ser formado por gás”, disse Mehta, ressaltando que a pegada de carbono da produção de gás natural é bem menor que a do petróleo e por isso a empresa considera o produto um importante combustível de transição. “Sei que isso causa polêmica, algumas pessoas querem que os combustíveis fósseis sejam substituídos de uma vez só, mas por enquanto ninguém ainda achou uma bala de prata para resolver essa questão.” A empresa prevê um declínio na produção de petróleo de 1% a 2% por ano.

Outra parte que cresce cada vez mais na empresa é a de soluções de energia baixo carbono, como o uso de fontes renováveis para obter eletricidade, segundo o vice-presidente de Engenharia de Tecnologia. “Temos o compromisso de maximizar a eletrificação de nossas operações.”

A aposta em combustíveis de baixo carbono, como hidrogênio e biocombustíveis, é outra frente de ação em direção à meta. A ideia é multiplicar por oito até 2030 a quantidade de combustíveis de baixo carbono produzidos pela empresa.

A captura e o armazenamento de dióxido de carbono (CCS, na sigla em inglês) também é um dos blocos previstos pela empresa para atingir a meta de zerar as emissões. O objetivo é conseguir capturar e armazenar 25 milhões de toneladas anuais até 2035. Atualmente a empresa tem oito projetos do tipo em diferentes fases de desenvolvimento. “Hoje há menos de 40 projetos de CCS no mundo, há uma falta de vontade política dos governos e da indústria”, diz Mehta, ressaltando que é muito difícil imaginar um cenário global favorável sem contar ao menos um pouco com as tecnologias de captura e armazenamento de carbono.

A empresa ainda investirá em soluções baseadas na natureza e para isso calcula que cerca de 120 milhões de toneladas anuais de carbono sejam consumidos por sumidouros naturais. O reflorestamento de grandes áreas é uma das opções, afirmou executivo.

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