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As abelhas, famosas por sua organização social e papel crucial na polinização, acabam de surpreender mais uma vez. Um estudo inovador liderado por Gema Martin-Ordas, da Universidade de Stirling, revelou que os zangões selvagens são capazes de raciocínio lógico. Essa descoberta, publicada na revista Biology Letters, desafia a suposição de que apenas organismos com cérebros grandes e capacidade de linguagem podem resolver problemas complexos.

O Estudo: Como Abelhas Demonstraram Raciocínio Inferencial

O estudo pioneiro envolveu a observação de abelhas selvagens, especificamente zangões capturados em Stirlingshire durante o verão de 2023. As abelhas foram submetidas a testes que exigiam que encontrassem tiras de papel revestidas de açúcar. O posicionamento e a cor dessas tiras variaram ao longo dos experimentos.

Os resultados foram surpreendentes: as abelhas conseguiram identificar a localização correta das tiras de açúcar de forma significativa, muito acima do que seria esperado pelo acaso. Isso indica que elas foram capazes de usar um tipo de raciocínio inferencial, onde tomam decisões com base na exclusão de alternativas — uma forma de raciocínio lógico associada a humanos.

Gema Martin-Ordas, a pesquisadora principal do estudo, explica: “O raciocínio inferencial permite que organismos resolvam problemas mesmo com informações incompletas. Por exemplo, se você tem duas xícaras e sabe que uma delas contém uma recompensa, ao descobrir que uma está vazia, você pode inferir que a outra contém a recompensa. Nossas abelhas fizeram algo semelhante.”

Implicações da Descoberta para a Ciência Cognitiva

Esta pesquisa abre novos caminhos para a compreensão da cognição animal. Anteriormente, acreditava-se que a capacidade de raciocínio lógico estava vinculada ao tamanho do cérebro e à presença de habilidades linguísticas avançadas. A descoberta de que abelhas — com cérebros extremamente pequenos em comparação com mamíferos e aves — podem realizar raciocínio lógico questiona essa noção.

“Esses resultados são robustos e consistentes, mostrando que não precisamos de cérebros grandes ou linguagem complexa para exibir raciocínio inferencial,” comenta Martin-Ordas. “Isso desafia a ideia de que essas habilidades são exclusivas dos humanos.”

A Situação das Abelhas e a Importância da Conservação

Além de sua importância científica, este estudo também lança luz sobre a urgente necessidade de conservar as abelhas. No Reino Unido, muitas espécies de zangões estão em declínio. De acordo com o Bumblebee Conservation Trust, duas espécies já foram extintas, e oito das 24 restantes estão listadas como espécies prioritárias de conservação devido ao declínio drástico em sua distribuição.

“O declínio das abelhas tornou-se um símbolo muito público da deterioração do meio ambiente,” diz Martin-Ordas. “Descobertas como a nossa, que revelam a complexidade e a sofisticação da cognição das abelhas, podem ajudar a aumentar a conscientização pública e impulsionar esforços de conservação.”

O Processo Experimental e a Ética

Os zangões usados no estudo foram capturados e testados em um tubo de plástico transparente. Durante um período de duas horas, as abelhas foram expostas a diferentes condições experimentais. Após os testes, as abelhas foram liberadas ilesas de volta ao ambiente natural.

“Nosso objetivo era entender como as abelhas processam informações e tomam decisões,” explica Martin-Ordas. “Essas experiências foram cuidadosamente projetadas para não causar danos às abelhas, respeitando seu bem-estar e contribuindo para nossa compreensão da vida selvagem.”

Por Que Essas Descobertas São Importantes?

Este estudo destaca a importância de explorar a cognição em animais de todos os tamanhos e capacidades. As abelhas são criaturas essenciais para a polinização, desempenhando um papel vital na saúde dos ecossistemas e na produção de alimentos. Compreender suas habilidades cognitivas pode não apenas aumentar nossa apreciação por esses insetos, mas também informar práticas de conservação mais eficazes.

Além disso, a descoberta de que abelhas podem raciocinar logicamente sugere que outros invertebrados também podem possuir habilidades cognitivas subestimadas. Isso pode levar a uma revisão significativa da forma como entendemos a inteligência animal e a complexidade da vida nos níveis mais básicos.

O estudo conduzido pela Universidade de Stirling nos lembra que a inteligência e a capacidade de resolver problemas não são exclusivas dos humanos ou de animais com cérebros grandes. As abelhas selvagens nos mostram que até mesmo os menores organismos possuem uma sofisticada capacidade de raciocínio lógico.

“Espero que os resultados do meu estudo contribuam para os esforços de conservação das abelhas,” diz Martin-Ordas. “Esses insetos são mais do que apenas polinizadores; eles são pensadores habilidosos e merecem nosso respeito e proteção.”

Este estudo não só aprofunda nossa compreensão da cognição animal, mas também reforça a necessidade urgente de proteger as espécies de abelhas que são fundamentais para nosso meio ambiente e sustento.

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