Crédito: Brian T. Huber/Smithsonian Institution

Os oceanos são uma peça fundamental no sistema climático da Terra, agindo como uma gigantesca correia transportadora global que redistribui calor e absorve carbono. No entanto, um estudo recente da Universidade da Califórnia – Riverside (UCR) aponta para uma grave advertência: eventos de calor extremo no passado causaram uma desaceleração significativa da circulação oceânica, e podemos estar caminhando para um cenário semelhante se não tomarmos medidas urgentes contra as mudanças climáticas.

O Estudo e Suas Descobertas

Utilizando conchas fossilizadas de microrganismos chamados foraminíferos, a equipe de pesquisa conseguiu analisar padrões de circulação de águas profundas durante o período Eoceno, há cerca de 50 milhões de anos. Esses fósseis foram recuperados de sedimentos do fundo do mar, permitindo uma reconstrução detalhada das condições oceânicas de então. Durante este período, o clima da Terra era muito mais quente, com níveis de dióxido de carbono atmosférico (CO₂) cerca de 1.000 partes por milhão (ppm), comparado aos atuais 425 ppm.

Correia Transportadora Global: A Chave para o Clima

A circulação oceânica funciona como uma correia transportadora, movendo água quente do equador em direção aos polos e trazendo águas frias de volta às regiões tropicais. Este sistema não só equilibra as temperaturas globais, tornando muitas áreas do planeta habitáveis, como também desempenha um papel crucial na remoção do dióxido de carbono antropogênico da atmosfera. Segundo Sandra Kirtland Turner, vice-presidente do Departamento de Ciências da Terra e Planetárias da UCR e principal autora do estudo, “os oceanos contêm quase 40 bilhões de toneladas de carbono – mais de 40 vezes a quantidade de carbono na atmosfera.”

Impacto das Mudanças Climáticas na Circulação Oceânica

Se a circulação oceânica diminuir, a capacidade dos oceanos de absorver carbono também diminui, amplificando a quantidade de CO₂ na atmosfera. Isso pode levar a um aquecimento global mais rápido e severo. Estudos anteriores já sugeriam que a circulação oceânica profunda, particularmente no Atlântico Norte, está começando a desacelerar. A pesquisa da UCR fornece uma evidência adicional ao mostrar que, durante os períodos de calor extremo do Eoceno, a circulação oceânica sofreu uma desaceleração significativa.

Ameaças Futuras e a Necessidade de Ação Imediata

O aquecimento global atual, impulsionado por emissões crescentes de gases de efeito estufa, pode replicar as condições do Eoceno se não forem tomadas medidas significativas para reduzir as emissões de carbono. Durante o Eoceno, os oceanos eram até 12 graus Celsius mais quentes do que hoje. Se o aquecimento atual continuar no ritmo atual, é possível que enfrentemos uma desaceleração semelhante na circulação oceânica até o final deste século.

Os modelos climáticos usados pelos cientistas simulam como a circulação oceânica responderá ao aquecimento global. No Eoceno, eventos chamados hipertérmicos, caracterizados por picos de CO₂ e temperaturas, são os melhores análogos para prever as futuras mudanças climáticas. “Esses eventos hipertérmicos, apesar de ocorrerem muito antes da existência humana, são nossos melhores análogos para futuras mudanças climáticas,” explica Kirtland Turner.

A Análise dos Foraminíferos

Os foraminíferos são minúsculos organismos marinhos cujas conchas se formam a partir de elementos absorvidos dos oceanos. Analisando as conchas desses microrganismos, os cientistas puderam inferir antigas temperaturas oceânicas e padrões de circulação. O estudo de Kirtland Turner e sua equipe revelou que durante os eventos hipertérmicos do Eoceno, a circulação das águas profundas do oceano foi significativamente impactada. As conchas dos foraminíferos mostraram mudanças na química, refletindo a temperatura e a idade da água onde se desenvolveram.

Lições para o Presente e o Futuro

A pesquisa sublinha a importância crucial de reduzir as emissões de carbono para evitar uma desaceleração catastrófica da circulação oceânica. Se os seres humanos continuarem a emitir cerca de 37 bilhões de toneladas de CO₂ anualmente, podemos recriar as condições extremas do Eoceno em nosso planeta. “Cada redução incremental nas emissões de carbono é importante,” afirma Kirtland Turner. “Mesmo pequenas reduções de CO₂ podem levar a menos impactos, menos perda de vidas e menos mudanças no mundo natural.”

A história da Terra oferece valiosas lições sobre os efeitos das mudanças climáticas extremas. A desaceleração da circulação oceânica durante o Eoceno é um alerta claro sobre os riscos que enfrentamos hoje. O estudo da UCR destaca a necessidade urgente de ações globais para mitigar as emissões de carbono e proteger nossos oceanos, que desempenham um papel vital na regulação do clima e na manutenção da vida na Terra.