Metas abusivas no trabalho podem configurar assédio moral

Empresas não devem colocar objetivos à frente da saúde física e mental e da dignidade dos colaboradores.

Mais da metade dos trabalhadores brasileiros (52%) já sofreu algum tipo de assédio no ambiente de trabalho. No entanto, a maioria deles (87,5%) não denunciou o ocorrido por medo de perder o emprego. As informações são do levantamento realizado pelo portal Vagas.com, divulgado em 2023, e alertam para uma realidade que é prejudicial não só aos profissionais, mas também para as empresas.

De acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a economia global perde cerca de US$ 1 trilhão por ano em dias de trabalho perdidos por funcionários que passaram por algum tipo de desequilíbrio na saúde mental. Segundo a OMS, o assédio moral está entre as principais queixas.

A cobrança de metas inatingíveis e abusivas pode ser considerada assédio moral no trabalho, especialmente se há ameaças de demissão e desrespeito. Estabelecer metas de produtividade ou vendas é permitido por lei, desde que as exigências sejam feitas de maneira razoável. Os líderes, portanto, não devem colocar esses objetivos à frente da saúde física e mental e da dignidade dos colaboradores.

Como as metas são formas pelas quais as empresas podem verificar o alcance de expectativas, em termos de produtividade individual e coletiva, as organizações têm o direito de criá-las e fiscalizar se estão sendo atingidas. É preciso, contudo, que a conduta seja tomada de maneira ética e respeitosa para não configurar assédio. 

Contar com um sistema de compliance pode ser uma alternativa para prevenir e combater o assédio moral decorrente de metas abusivas numa empresa. Por se tratar de um conjunto de regras, práticas e processos estabelecidos para que a organização esteja em conformidade com leis, padrões éticos e regulamentos vigentes, é possível estabelecer políticas claras e diretrizes éticas, que proíbam práticas abusivas.

Além disso, o sistema pode atuar na promoção de treinamentos e na conscientização dos colaboradores para que possam reconhecer e denunciar comportamentos inadequados. 

Ainda de acordo com a pesquisa do portal Vagas.com, entre os profissionais que já foram assediados no ambiente de trabalho, 39,4% não denunciaram com medo de perder o emprego. Outros motivos para não fazer a denúncia incluem receio de represálias, mencionado por 31,6%, vergonha, apontada por 11%, e medo de ser considerado culpado, mesmo sendo a vítima, razão indicada por 8,2% dos entrevistados.

Ao estar ciente sobre o que é compliance, o trabalhador pode se sentir mais seguro em usar os canais de denúncia confidenciais quando estiverem se sentindo pressionados de maneira excessiva e abusiva no ambiente laboral.  

Quando a busca por resultados se torna um risco

De acordo com portais especializados em Direito do Trabalho, há o entendimento de que existe um limite mínimo de produtividade que todo trabalhador deve alcançar para que seu rendimento não seja considerado insatisfatório e seu emprego fique em risco. Quando esse patamar é constantemente elevado e as exigências para que as metas sejam alcançadas passam a representar um distúrbio no ambiente de trabalho, é preciso repensá-las. 

Para se ter uma ideia, dados da Consulta Nacional, apresentados durante a 25ª Conferência Nacional dos Bancários, em 2023, mostram os impactos negativos na saúde dos bancários devido às cobranças excessivas pelo cumprimento de metas. As principais consequências incluíram preocupação constante com o trabalho, cansaço e fadiga frequentes, desmotivação, vontade de não ir trabalhar e crises de ansiedade ou pânico.

Uma meta pode ser considerada inatingível pela dificuldade ou falta de recursos para realizá-la. Outra situação destacada pelos especialistas é quando o funcionário não tem produto suficiente para atingir a meta ou a empresa cria obstáculos constantemente para que o colaborador não a alcance. Essas situações podem gerar ansiedade e expor o profissional a situações vexatórias, sobretudo, quando a cobrança é feita mediante bullying ou ameaças de demissão. 

O que fazer em caso de assédio moral?

Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o assédio moral pode ser interpessoal, ou seja, ocorrer de maneira individual, pessoal e direta; e institucional, que é quando a companhia é conivente ou incentiva os atos. Em ambos os casos, é importante que os setores de Recursos Humanos e Compliance conscientizem as lideranças e os funcionários, e que o anonimato das denúncias seja garantido, bem como as punições aplicadas.

A orientação para o profissional que estiver sofrendo assédio por metas e cobranças abusivas é anotar tudo o que acontece. Guardar o máximo de provas, como e-mails, mensagens de WhatsApp, gravações de áudio, planilhas com as metas, contracheques e cartões de ponto também é aconselhável. Além disso, é importante denunciar o assédio e conversar com um advogado. Caso as medidas não tenham efeito, é possível tentar negociar a saída da empresa ou entrar na justiça.

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Nathani Paiva, jornalista formada pela Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora (MG). Possui especialização em Jornalismo Multiplataforna pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Trabalhou em portais de notícias da cidade nas editorias de Cidade, Economia, Esporte, Política e Internet. Também possui vasta experiência em Assessoria de imprensa e Digital PR. Atualmente, é Assessora de Imprensa da Experta, empresa de Marketing Digital e SEO.