O impacto do bullying na saúde mental de quem usa óculos e tem alto grau

Por Makoto Ikegame

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em 2019, o Brasil é o país com mais casos de ansiedade no mundo: são 18,6 milhões de pessoas afetadas. Além disso, somos um dos líderes em quadros de depressão. Esse cenário é motivado especialmente por conta das inseguranças que afetam a população, como a falta de oportunidades, fome, desemprego, instabilidade econômica, entre outros . Além disso, outro fator externo do qual pouco se fala, mas que pode levar a distúrbios duradouros é o bullying, violência física ou psicológica cometida de forma repetitiva a uma pessoa ou a um grupo. De acordo com uma pesquisa realizada em 2019, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23% dos estudantes do país afirmaram já terem sofrido bullying, e  um a cada dez entrevistados também já se sentiu ameaçado pelo cyberbullying, ou intimidação virtual. E não faltam pesquisas a respeito do assunto: outro estudo, este realizado em 2019, pela Universidade de Buffalo (EUA), constatou que um terço dos adolescentes que sofriam esse tipo de assédio também apresentavam sintomas de depressão, alterações no sono, irritabilidade, reclusão social e outros distúrbios. 

Esse tipo de intimidação costuma ser mais frequente em certas comunidades e minorias sociais, podendo acontecer em espaços como escola, faculdade, trabalho e até na família. Quando aliado a outros fatores, como a pressão estética, por exemplo, que determina  que devemos seguir certos padrões de beleza, o bullying pode se tornar ainda mais devastador. Um dos grupos mais frequentemente acometidos pelo bullying, sobretudo na infância, é o das pessoas que utilizam óculos, principalmente aquelas com ametropias (miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia) complexas e em alto grau. 

Tradicionalmente, quanto maior o grau e o nível de complexidade da disfunção ocular, mais grossas são as lentes utilizadas para corrigi-la, o que acaba gerando o famoso efeito “fundo de garrafa”, quando nossos olhos parecem maiores por trás dos óculos. Essa sensação pode ocasionar um grande desconforto ao usuário, que acaba se tornando motivo de chacota em seu grupo social e desenvolvendo sérios problemas de autoestima, e, inclusive, as já citadas ansiedade e depressão. 

Um exemplo bem palpável do bullying contra pessoas de óculos pode ser facilmente encontrado em filmes e séries. Quantas vezes já não nos deparamos com uma cena de violência física e verbal contra garotos e garotas considerados “nerds” ou “esquisitos”, que utilizam óculos de lentes grossas e que não se encaixam no esperado pelo grupo? Essas produções culturais ajudam ainda mais a reforçar o estereótipo da pessoa com óculos como “fora do padrão” e merecedora de deboche, o que indiretamente também funciona como um agravante à saúde mental de quem assiste e se sente representado por esses personagens. 

Atualmente existem no mercado inúmeras opções de produtos oculares capazes de proporcionar um maior conforto ao usuário, como lentes de resina feitas por meio de uma tecnologia que as permite ser, pelo menos, 30% mais finas que as lentes para alto grau mais comuns no mercado. Apesar desses produtos oferecerem mais conforto para seus utilizadores, a autoestima das pessoas com ametropias complexas não deve ficar restrita ao uso deles. É importante que todos que sofram com alto grau busquem outras formas de se sentirem bem e estarem com a saúde mental em dia. Além disso, é imprescindível que as escolas, o governo e outras instituições também invistam em campanhas de conscientização sobre bullying e saúde mental, alertando a população e apontando ações, tratamentos e intervenções eficazes na prevenção e enfrentamento do problema. 

Outro ponto de grande importância é o ensino, desde a primeira infância, sobre a importância da gentileza com o próximo e de falarmos abertamente sobre nossa saúde mental. Uma sociedade que respeita o próximo, independentemente de suas diferenças, está mais perto de criar relações justas e igualitárias, nas quais todos se sintam bem para ser quem verdadeiramente são. 

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