Cientistas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) no Brasil e da Universidade de Cádiz (UCA) na Espanha desenvolveram com sucesso um método inovador para extrair compostos químicos de alto valor da casca de jabuticaba (Plinia cauliflora). O método, que simplifica o processo e aumenta sua eficiência, é detalhado em um artigo publicado no Journal of Food Composition and Analysis.

O objetivo foi otimizar a extração de antocianina, um potente antioxidante encontrado em morangos, amoras, framboesas e jabuticabas, entre outras fontes. A antocianina possui efeitos anti-inflamatórios e é também um corante natural responsável pelas tonalidades de vermelho, azul e roxo observadas em muitas flores, frutas, folhas, talos e raízes.

O estudo concentrou-se na extração simultânea e purificação da antocianina derivada da casca de jabuticaba, um resíduo lignocelulósico. “A pesquisa ajustou meticulosamente os parâmetros de extração para alcançar resultados ótimos”, afirma Tânia Forster-Carneiro, professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da UNICAMP. Desde 2013 na UNICAMP, ela se especializa em pesquisa bioengenharia e biotecnologia.

Após otimizar a extração, os pesquisadores desenvolveram uma técnica de purificação utilizando material biossorvente derivado do resíduo de jabuticaba. Biossorventes absorvem materiais por absorção ou adsorção. Simplificando, um biossorvente é um sorvente natural que atua como uma esponja seletiva, removendo determinadas substâncias de uma mistura enquanto permite a passagem de outras.

“Os biossorventes são amplamente utilizados em processos de purificação para remover poluentes e outras substâncias de líquidos ou gases. Basicamente, eles atuam como filtros, separando os componentes indesejados de uma mistura”, explica Forster-Carneiro, que obteve seu doutorado em engenharia de processos industriais pela UCA em 2004.

Os parâmetros otimizados para a extração de antocianina foram 40 minutos de maceração a 60 °C em solução de 50% de metanol (MeOH). Neste contexto, o biossorvente derivado do resíduo de jabuticaba purificou a antocianina extraída com eficiência de 90%, superando o adsorvente comercial usado para comparação (PoraPak Rxn).

A avaliação EcoScale foi de 86 em 100, o que é impressionante segundo Forster-Carneiro. O EcoScale é uma ferramenta semiquantitativa para avaliar a “ecofriendliness” de uma reação química em escala laboratorial.

O artigo compara o método inovador de extração de antocianina a outros nove processos descritos na literatura científica, para os quais o EcoScale varia de 33,95 a 73,6 (com média de 51,79).

“É necessário mais pesquisa para adaptar este método para produção em larga escala, mas o estudo representa um avanço significativo no campo”, conclui Forster-Carneiro, que é investigadora principal de um projeto na UNICAMP apoiado pela FAPESP.

Fonte: Adaptado de FAPESP